Repertório 451 MHz,

Mestre-sala e porta-bandeira: Luiz Antonio Simas e Teresa Cristina

Os dois grandes conhecedores do Carnaval falam do adiamento da festa deste ano e o que a Broadway tem a aprender com a Sapucaí

25fev2022

Está no ar o 59º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros! Em ritmo de Carnaval, recebemos neste episódio dois grandes conhecedores de uma das maiores festas do mundo: o escritor e professor de história Luiz Antonio Simas e a cantora e compositora Teresa Cristina. Os dois conversam com o apresentador Paulo Werneck e a editora-assistente Marília Kodic sobre o adiamento do Carnaval deste ano para abril devido à pandemia de Covid-19, a perseguição política a festas populares negras no Brasil e o que a Broadway pode aprender com a Sapucaí, em referência à viagem que o secretário da Cultura Mario Frias fez recentemente a Nova York.

Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também! O podcast tem ainda apoio da Companhia das Letras.

Carnaval é trabalho

O Carnaval é uma das maiores festas do mundo, movimenta a economia, empregando milhares de pessoas e atraindo turistas. Seja em blocos de rua, desfiles de escolas de samba ou em bailes à fantasia, o Carnaval é uma manifestação cultural marcada pela inversão de papéis sociais.
 

      
 

Se é um período em que a maioria das pessoas cai na folia, não se pode dizer o mesmo para Luiz Antonio Simas, autor de vários livros sobre o Carnaval, como Tantas páginas belas: história da Portela (Verso Brasil, 2012), Samba de enredo: história e arte (Civilização Brasileira, 2010), escrito com Alberto Mussa, vários verbetes do Dicionário da história social do samba, feita em conjunto com Nei Lopes, entre outros textos.
 

   

Além disso, ele é um prolífico intelectual da história urbana e religiosa do Rio de Janeiro. Mais recentemente, Simas lançou os livros Maracanã: quando a cidade era terreiro (Mórula, 2021), resenhado por Bianca Tavolari em sua coluna da edição 54, e Umbandas: uma história do Brasil (Civilização Brasileira, 2021), resenhado por Silvana Jeha em texto que será publicado na edição 56 da revista. Ele também vai lançar ainda este ano um livro sobre santos católicos.
 

Luiz Antonio Simas [Edu Goldenberg]

Simas é um verdadeiro garimpeiro da historiografia, valendo-se de relatos orais, crônicas, livros de sebos e livrarias e, principalmente, de jornais. Ele dá um salve para a Hemeroteca Brasileira da Biblioteca Nacional, que possui um banco de jornais digitalizados do Brasil inteiro e de várias épocas: “Sem a Hemeroteca Brasileira o meu trabalho não existiria”, diz.
 

      

Simas ainda revelou os livros que o levaram a se interessar por temas ligados ao Carnaval e às manifestações populares: Literatura como missão (Brasiliense, 1983) e A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes (Scipione, 1993), de Nicolau Sevcenko, e Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi (Companhia das Letras), de José Murilo de Carvalho.
 

      

Ele ainda destacou três títulos do historiador Sidney Chalhoub: Cidade febril: cortiços e epidemias na corte imperial (Companhia das Letras, 1997), Trabalho, lar e Botequim: o Cotidiano dos Trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle époque (Editora Unicamp, 2012) e Machado de Assis historiador (Companhia das Letras, 2003).

Samba é política 

Tereza Cristina [Fernanda Garcia/Divulgação]

Durante a pandemia Teresa Cristina se tornou um fenômeno das redes sociais ao organizar lives no Instagram em que cantava algumas de suas canções, conversava sobre acontecimentos políticos e recebia convidados ilustres. Relembre alguns dos grandes sucessos da cantora, que também fez parte do grupo Semente.

Grande admiradora da Portela, Teresa Cristina vai desfilar em abril na escola do seu coração, além da Mangueira e da Viradouro. Ela ainda comentou de como o samba sempre foi político e que não é possível ser sambista sem pensar na mensagem que as músicas carregam. Ainda destacou a importância da Grande Rio fazer um desfile todo centrado em Exu, o orixá das encruzilhadas, ainda mais em um contexto de perseguição e de intolerância religiosa às religiões de matriz africana.

Na conversa, ela também falou que frequenta as eliminatórias dos sambas de enredo que acontecem nas quadras das escolas. Marília Kodic, editora-assistente da revista e que participou da entrevista com a cantora, chegou a visitar algumas dessas competições e escreveu uma Crônica do Rio para a edição de janeiro de 2020 da revista dos livros. No texto, ela mostra como as escolas de samba criticavam o então prefeito Marcelo Crivella, mas ainda deixam o dinheiro ditar suas escolhas internas.

Teresa Cristina comentou da importância da música “Heróis da Liberdade”, samba-enredo da Império Serrano, de 1969, de autoria de Silas de Oliveira, Mano Décio e Manoel Ferreira, considerado por muitos o mais bonito samba enredo da história do carnaval carioca — e censurado em plena ditadura por causa do AI-5. O samba fala das pessoas que lutaram pela liberdade no Brasil e contestava a opressão.

A cantora também cantou alguns versos de “Onde Está a Honestidade?”, de Noel Rosa e Francisco Alves (1933), ao tratar da política brasileira no episódio. Logo a seguir é possível ouvir a música na voz do próprio Noel Rosa.

Para ler (e ouvir) o Carnaval

Simas recomendou dois livros para conhecer mais sobre a história do Carnaval.

Ele teceu elogios ao livro Ecos da folia, de Maria Clementina Pereira Cunha (Companhia das Letras, 2001), em que a autora analisa o Carnaval carioca da virada do século 20, mostrando como a crítica social e política aliava-se à mais pura diversão; nas folias ecoavam, por exemplo, as lutas pela abolição e os sonhos de monarquistas e republicanos. 

A subversão pelo riso: estudos sobre o Carnaval carioca, da Belle Époque ao tempo de Vargas, de Rachel Soihet (Edufu, 2008), que está fora de catálogo no momento e que Simas recomenda fortemente a ser reimpresso. O objeto desse estudo é o Carnaval carioca de 1890 a 1945, na sua versão popular, buscando mostrar a participação dos populares na festa, como uma forma de resistência aos grupos hegemônicos que na Primeira República procuraram eliminar suas formas de expressão. E essa resistência ganhou forma nas Escolas de Samba.

O professor carioca ainda relembrou o samba-enredo “Pauliceia Desvairada — 70 anos de Modernismo”, da Estácio de Sá, que ganhou o Carnaval de 1992 com esse tema. Uma homenagem ao aniversário da Semana de Arte de 1922, que este ano completa cem anos. Escute a música logo abaixo:

Mais na Quatro Cinco Um

Luiz Antonio Simas é colaborador frequente tanto do 451 MHz quanto da Quatro Cinco Um. Ele participou do sétimo episódio do podcast, “Bruxas, ruas do Rio, censura”, falando sobre o seu livro de crônicas O corpo encantado das ruas (Civilização Brasileira), em que destrincha as ruas e os personagens do Rio de Janeiro. A obra foi resenhada na edição 28 da revista por Isabela Reis. Ele também participou de “Nelson Rodrigues: sexo, mentiras e folhetim”, episódio especial da coleção Narradores do Brasil.

   

Na edição de agosto de 2019 da Quatro Cinco Um, Simas resenhou o livro História do Rio de Janeiro em 45 objetos (FGV Editora), organizado por Paulo Knauss, Isabel Lenzi e Marize Malta. Na edição de novembro do mesmo ano, ele escreveu sobre Batuque, samba e macumba: estudos de gesto e de ritmo, de CecIlia Meireles (Global).

      

Simas também escreveu sobre o romance Nada digo de ti, que em ti não veja (Pallas), de Eliana Alves Cruz, na edição de agosto de 2020; sobre o livro Rua de dentro (Record), de Marcelo Moutinho, na edição 32; e sobre o infantil Erêmi: o guia da Umbanda para  crianças de axé (ou de outra fé) (Arole Cultural), de Luana Leandro e ilustrado por Bruno Barelli.

Veja todos os textos de autoria de Simas publicados na revista dos livros.

O melhor da literatura LGBTI+

Ao longo de 2021, o quadro contou com o apoio do C6 Bank e reuniu catorze livros e dicas literárias LGBTI+ de colaboradores da Quatro Cinco Um. Veja a lista completa. 

Narradores do Brasil

Na coleção de episódios roteirizados Narradores do Brasil, o 451 MHz faz breves incursões no formato narrativo para explorar a vida e a obra de nossos grandes autores. Ouça o último episódio sobre o casal Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop. Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, Nelson Rodrigues, Paulo Freire e Caio Fernando Abreu  foram os outros autores contemplados nessa coleção.

O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação 451.
Apresentação: Paulo Werneck, Paula Carvalho e Marília Kodic
Coordenação Geral: Évelin Argenta, Paula Scarpin e Vitor Hugo Brandalise
Produção: Gabriela Varella
Edição: Claudia Holanda
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger e FêCris Vasconcellos
Gravado com apoio técnico da Confraria de Sons & Charutos (SP).
Para falar com a equipe: [email protected].br