Narradores do Brasil, Repertório 451 MHz,

Em busca de Rubem Fonseca

Uma investigação sobre a influência de um ex-policial, cinéfilo, recluso e erudito na literatura brasileira contemporânea

12mar2021

Está no ar um episódio especial do 451 MHz, o podcast da revista dos livros! Em formato narrativo, Em busca de Rubem Fonseca explora a vida e o universo ficcional do escritor. Uma investigação sobre a influência de um ex-policial, cinéfilo, recluso e erudito, na literatura brasileira contemporânea.

Nesse episódio especial, o apresentador Paulo Werneck segue no encalço do Rubem Fonseca, para responder perguntas, desfazer clichês e entender as razões da enorme influência dele na literatura brasileira contemporânea.

Um ano depois de sua morte, começamos a pagar a nossa dívida com José Rubem Fonseca. Ouça aqui e agora:

No episódio, trechos da obra de Rubem Fonseca, lidos pelo ator Marcos Palmeira, são costurados a trechos de entrevistas, sonoras da rua e comentários de transeuntes para investigar se Rubem Fonseca foi o prosador mais influente de seu tempo, por que ele magnetiza tantos leitores e qual foi e continua a ser sua influência.

Com doze entrevistas, o episódio cerca a vida e obra do escritor em pelo menos quatro frentes. Seus filhos ajudam a decifrar sua personalidade, extremamente reservada aos olhos do público. Amigos de vida inteira — Sérgio Augusto e Zuenir Ventura — trazem lembranças do início de carreira, do dia a dia do escritor e de momentos difíceis, como a censura a um de seus livros. 

Escritores contemporâneos falam sobre as marcas de Fonseca em suas vidas de leitores e autores. Entre eles, representantes de diversas gerações: os paulistas Marçal Aquino e Marcelo Rubens Paiva, os gaúchos Veronica Stigger e Jeferson Tenório e o carioca J.P. Cuenca. O programa traz ainda a voz de figuras que poderiam ser seus personagens: pessoas que estão nas ruas do Rio de Janeiro e que respondem: “O que a sociedade brasileira está te devendo?”. 

O que o Brasil está te devendo?

Em alusão ao conto “O cobrador”, de 1979, perguntamos aos ouvintes: “o que o Brasil está te devendo?” As respostas, variadas, intensas e que ecoam os contos de Rubem Fonseca e o momento do país, reforçam o caráter profético do autor.

“O Brasil me deve uma viagem a Cuba. Muita gente me disse pra ir, mas a passagem é cara. Anda caro ser comunista.
Esse país também me deve os cinemas de rua da Tijuca, transformados em igrejas, farmácias e lojas de eletrodomésticos. Mas de tudo o que o Brasil me deve, a Praça XI é o ponto nevrálgico. Só ficou o nome na estação do metrô. Quando a gente desce, não existe praça, mas tudo veio de lá, o encontro entre as rodas de batuques, as macumbas da Bahia e do Rio, aconteceu lá. Tia Ciata e as rodas de samba e quitutes, que cheiro tiveram? O Brasil me deve o Morro do Castelo, o Palácio Monroe, os guarani kaiowá, brasileiros que nem eu.
Me deve os ianomâmi das fotos da Claudia Andujar, vivos. A dívida é grande, a vacina, o carnaval desse ano, os livros esgotados do Nei Lopes e a festa que teria sido vencer a copa do mundo aqui dentro. Imagina o Alzirão. Vou cobrar os torturadores que esconderam o rosto diante de uma mulher digna na foto famosa. E deve a injustiça contra ela, na tragédia e na farsa.
Me devem a mentira da cloroquina, a barca antiga pra Niterói e as onças do Pantanal.
Me devem a vida da Marielle e o dia em que fui cobrada por mostrá-la de cabeça erguida — não tinha uma foto dela mais humilde? —disseram. O sol nas bancas de revista, a cachaça de Paraty em julho, o tempo que não volta, o rio Maracanã, a festa da Penha, Canudos emergindo e Dom Sebastião com um tridente nos Lençóis do Maranhão, chorando de vergonha pela colonização. A abolição, a constituição, a escola pública, os homens incólumes no poder e o Museu Nacional, o Brasil me deve.
Pátria inadimplente, negocio tudo, só quero um presidente.”
Cecília Matos

A vencedora do desafio, Cecília Matos (@historiadevagar), ganhou uma coleção especial das obras de Rubem Fonseca, incluindo “Feliz ano novo”, “Amálgama”, “Agosto”, “O seminarista”, “Bufo & Spallanzani” e futuro lançamento de “Calibre 22”, pela editora Nova Fronteira.

Em busca de Rubem Fonseca é o primeiro de uma coleção de episódios roteirizados do 451 MHz que vão explorar a vida e a obra dos nossos grandes autores. Saiba mais aqui.

A página Repertório 451 MHz reúne os links para o último episódio, livros citados, listas, além de imagens, sugestões de leitura e outras indicações para se aprofundar nos temas discutidos. 

O podcast 451 MHz pode ser ouvido gratuitamente no site da revista e também nos principais tocadores de podcasts. Ele é publicado na primeira e na terceira sexta-feira de cada mês. 

A apresentação é do editor Paulo Werneck e a direção é da jornalista Paula Scarpin, da Rádio Novelo, start-up de podcasts que produz o 451 MHz para a Associação Quatro Cinco Um. Para contribuir com a realização do podcast, convidamos você a fazer uma assinatura da Quatro Cinco Um, a revista dos livros.

Livros

Feliz ano novo

Publicada em 1975, é uma das obras-primas de Rubem Fonseca. Carregado de violência e sexo, o livro foi proibido pela censura até o fim da ditadura brasileira. A resposta de Rubem Fonseca? Escrever obras ainda mais violentas, a começar por O cobrador (1979). 

Trecho do conto “Feliz ano novo”
Os homens e mulheres no chão estavam todos quietos e encagaçados, como carnei-rinhos. Para assustar ainda mais eu disse, o puto que se mexer eu estouro os miolos.
Então, de repente, um deles disse, calmamente, não se irritem, levem o que quiserem, não faremos nada.
Fiquei olhando para ele. Usava um lenço de seda colorida em volta do pescoço.
Podem também comer e beber à vontade, ele disse.
Filha da puta. As bebidas, as comidas, as joias, o dinheiro, tudo aquilo para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. Para eles, nós não passávamos de três moscas no açucareiro.
Como é seu nome?

Leia o trecho completo. No episódio, o escritor Jefferson Tenório (O avesso da pele) compartilha memórias de quando tentava pegar emprestado o livro de uma biblioteca gaúcha e o porquê de usar Feliz ano novo nas suas aulas de literatura.

Agosto

Uma mistura de ficção e realidade, o livro publicado em 1990 traz memórias dos tempos de polícia de Rubem Fonseca e reconta o mês em que o presidente Getúlio Vargas suicidou-se com um tiro no peito, em 1954.

Calibre 22

No livro de contos, o detetive Mandrake retorna para investigar quem cometeu uma série de assassinatos cujas vítimas estão ligadas ao editor de uma revista feminina. A violência motivada por misoginia, homofobia, racismo e outros preconceitos é objeto de outras narrativas da coleção.

Bufo & Spallanzani

Além de desvendar um crime, a obra faz uma investigação sobre o gênero policial e o processo da escrita. Traz narrativas cruzadas, faz referências literárias — nas primeiras páginas, um sonho com Leon Tolstói —, indaga sobre o ato de escrever e a função da linguagem e, assim, a conversa com o leitor vai além do que está nas páginas.

Nas telas

O velho tira e o cinema

Rubem Fonseca morreu em abril de 2020, aos 94 anos. Na época, Walter Salles escreveu sobre como o autor aprendeu a catar histórias na rua e se tornou um cinéfilo inveterado. 

Parênteses
Nova Fronteira

Considerado o maior contista brasileiro, Rubem Fonseca tem seus livros publicados pela Nova Fronteira em novos projetos gráficos desde 2018. Títulos como Agosto, Bufo & Spalanzani, O seminarista, Feliz ano novo e Amálgama, vencedor do Jabuti de contos e crônicas, já estão disponíveis em livrarias de todo o país e também à venda em lojas online. Assim como Calibre 22, que acaba de ganhar nova capa e posfácio. Em 2021, o leitor pode esperar grandes edições das obras do autor sendo lançadas mês a mês.

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Renata Campos Salles Moraes Abreu
Marcia Adorno
Guilherme Alpendre 
Leonardo Maciel Andrade
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Maria Paula Barbosa
Cristina Ribeiro Barczinki
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Samuel Valim Bologna
André Casaroli da Costa Branco
Andre Bressan
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Lucas Carvalho
Luciano Carvalho
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Claudia Sampaio Costa
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Kelly de Souza Ferreira
Ronaldo Ribeiro Ferreira
Waldomiro José da Silva Filho
Paula Fontana Fonseca
Márcia Cristina Fráguas
Luiza Franco
Maria Filomena Gregori
Caroline Greve
Julia Guarilha
Mariah Guedes
Sandrine Ghys
Paula Juchem
Fábio Kalvan
Ilana Katz
Marjorie Leite 
Claudio Lima
Leila Lima
Myrna Lima
Carla Maia
Roberta Marquezin
Maria Cristina Savaia Martini
Francisco Mastropietro
Rita Mattar
Lenivia Mendes
Valéria Midena
Loide Migliorini
Mariana Pinheiro e Moreira
Victor Muniz
Luiz Antônio Thimotti Nicoliello 
Ana Novais
Ligia Helena Sales Nunes
Bruno Emanuel Carvalho Oliveira
Ana Pessoa Pacheco
Thomaz Pereira
Luísa Plastino
Diana Radomysler
Douglas de Oliveira Rocha
Heloisa Vieira da Rocha
Leni Manzatti Rodrigues
Radmila Salviano
Fabio Cunha dos Santos
Juliano Machado dos Santos
Marcella Costa Motta dos Santos
Luiz Eugênio Sena
Gustavo Sénéchal
Gabriel Barbosa Silva
Victor Hugo Siqueira
Guilherme Sorgine
João Pedro de Souza
André Viana
Flávia Bezerra Tone Xavier
Thomaz Werneck
André Wolf

O episódio "Em busca de Rubem Fonseca" é uma produção da Rádio Novelo para a Quatro Cinco Um
Apresentação: Paulo Werneck
Coordenação e roteiro: Vitor Hugo Brandalise
Produção: Marcelle Darrieux
Edição e captação de áudio externa: Claudia Holanda
Edição adicional e sonorização: Paula Scarpin
Música tema: Guilherme Granado e Mario Cappi
Trilha adicional: Daniel Limaverde
Leitura de trechos de contos: Marcos Palmeira
Finalização e mixagem: João Jabace
Ilustração: Rafa Campos Rocha
Identidade visual: Julia Monteiro
Coordenação digital: Juliana Jaeger
Gravado com apoio técnico da Som de Cena (SP)
Na ordem de aparição no episódio, foram lidos trechos dos seguintes contos de Rubem Fonseca: "O Cobrador", "Feliz Ano Novo", "A Arte de Andar nas Ruas do Rio de Janeiro", "Intestino Grosso", "A Coleira do Cão", "Relato de Ocorrência", "O Cobrador" novamente e, mais uma vez, o "Feliz Ano Novo". Todos esses contos estão disponíveis na coleção de obras completas do Rubem Fonseca pela editora Nova Fronteira.
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