Repertório 451 MHz,

O indizível do horror

No podcast 451 MHz, Tatiana Salem Levy e Paloma Franca Amorim conversam sobre as representações literárias da violência sexual

18jun2021

Está no ar o quadragésimo teceiro episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros! Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. 

Neste episódio, autoras de um romance e de uma crônica que narram um estupro e as suas consequências na vida de duas mulheres, Tatiana Salem Levy e Paloma Franca Amorim conversam sobre as representações literárias da violência sexual.

 O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também!

O 451 MHz tem apoio do Quarta Capa, da Todavia; e da Rádio Companhia, o podcast da Companhia das Letras; além de ter como parceiro o podcast Faxinaque conta histórias de vida de faxineiras imigrantes.

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Violência escrita

O apresentador Paulo Werneck recebe neste episódio duas convidadas que abordam o tema da violência sexual em seus livros. Paloma Franca Amorim publicou a coletânea de crônicas Eu preferia ter perdido um olho (2017, Alameda) — em um dos textos do livro, ela relata um estupro que sofreu em Belém do Pará. “É possível colocar pequenas bombas, minar a crônica, que alimenta o pensamento paradoxal, o pensamento contraditório”, diz. Escritora, profesora e artista plástica, ela acaba de lançar o romance O oito (Alameda).

Tatiana Salem Levy é autora do recém-publicado Vista chinesa (Todavia), que fala de estupro a partir de um caso real vivido por uma amiga, a diretora de televisão Joana Jabace, em 2014. É a partir de uma fala sua durante a conversa que vem o título do episódio: “A violência sexual é o indizível do horror. Daquilo que não é para acontecer de jeito nenhum. Da injustiça no seu auge”.

Levy é escritora e ensaísta, colunista do jornal Valor Econômico e pesquisadora na Universidade Nova de Lisboa. Descendente de judeus turcos, ela nasceu durante a Ditadura Militar, quando a família estava exilada em Portugal. Nove meses depois de seu nascimento, voltaram para o Brasil, beneficiados pela Lei da Anistia brasileira. Em 2008, recebeu o Prêmio São Paulo de Literatura como autora estreante com A chave de casa (Record, 2007). Publicou ainda os romances Dois rios (Record, 2011) e Paraíso (Foz, 2014), além do infantojuvenil Tanto mar (Record, 2013) e do livro de crônicas O mundo não vai acabar (José Olympio, 2017).

Dizendo o indizível

Ao longo da conversa, o apresentador e as convidadas relembram cenas de estupro na literatura, como aquelas presentes em “Um conto nefando?”, de Sérgio Sant’Anna, do livro O voo da madrugada (Companhia das Letras, 2003), em que um menino estupra a própria mãe; e o relato de Virgínia Woolf, que foi abusada pelo irmão mais velho — fato largamente ignorado por leitores, críticos e biógrafos durante anos —, em Um esboço do pssado (Nós, 2020).

Na Quatro Cinco Um

Assim como os livros de Tatiana Salem Levy e Paloma Franca Amorim, Terráqueos (Estação Liberdade, 2021), romance de Sayaka Murata, aborda o tema do abuso sexual. O romance foi resenhado por Paulo Werneck para a edição 43 da revista: “Esses livros são puro gatilho, talvez de leitura insuportável para muitas mulheres. Para o leitor homem, são uma porta de entrada para as mais terríveis sensações e pensamentos que só as mulheres conhecem, uma dor cujo tamanho jamais poderemos calcular”.

Minha sombria Vanessa (Intrínseca, 2020), de Kate Elizabeth Russel, também explora a relação de abuso sexual, mas entre um professor e adolescente, e pelo olhar da vítima. O romance foi resenhado por Virginia Siqueira Starling para a edição 36 da Quatro Cinco Um. Ela conta que o psicanalista húngaro Sándor Ferenczi, ao estudar em 1933 a experiência de crianças com o abuso, afirmou que seria mais suportável para elas assumirem a responsabilidade do que correr o risco de perder o objeto de amor e identificação, pois introjetam os sentimentos de culpa do adulto perpetrador, forçando-as a lidar sozinhas com a vivência traumática.

Starling também escreveu sobre as investigações jornalísticas das denúncias de assédio contra o produtor Harvey Weinstein na edição 32 da revista. Outro livro que toca no tema da violência contra a mulher, Cat Person e outros contos (Companhia das Letras, 2019), de Kristen Roupenian, que explora as relações de poder e consentimento, foi resenhado na Quatro Cinco Um por Xico Sá e Tati Bernardi — ambos falam sobre o tema no primeiro episódio do 451 MHz.

Em setembro de 2020, a revista publicou um texto do coletivo Acadêmicas anônimas sobre o caso de uma menina de dez anos que fora estuprada e estava grávida. Na ocasião, ativistas e a sociedade se uniram para reivindicar o direito ao aborto legal. “Falar de interrupção da gravidez no Brasil hoje é uma tarefa perigosa: a violência e o dano à reputação espreitam todos os que ousam tocar no tema”, escrevem elas. “Não há segurança nem mesmo para defender em um debate acadêmico o cumprimento da legislação.”

Apresentação: Paulo Werneck
Coordenação Geral: Paula Scarpin e Vitor Hugo Brandalise
Produção: Gabriela Varella
Edição: Claudia Holanda
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger
Gravado com apoio técnico da Confraria de Sons e Charutos (SP).
Para falar com a equipe: [email protected].br

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