Repertório 451 MHz,

Livro do desassossego, de Fernando Pessoa

José Miguel Wisnik fala sobre a multiplicidade de Pessoa, como a poesia pode ser filosofia e sua importância para o Tropicalismo

27jan2023

Está no ar o 80º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros. Fernando Pessoa, um dos maiores autores da língua portuguesa, ganha duas versões do Livro do desassossego, obra póstuma de grande importância na história da literatura. O escritor, compositor e professor José Miguel Wisnik, leitor privilegiado do poeta português, fala sobre a multiplicidade de Pessoa, se a poesia pode ser filosofia e sua importância para o Tropicalismo.

Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também! Este episódio também tem o apoio da editora Fósforo.

José Miguel Wisnik é um dos críticos literários mais importantes do Brasil hoje. Ele é um grande ensaísta e escreve sobre vários assuntos, de literatura a futebol e música, mas principalmente poetas, como Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski e, claro, Fernando Pessoa.

No episódio, ele comenta que não estudou profissionalmente Pessoa, mas é um leitor “amador” da obra do poeta português, com a qual entrou em contato aos dezesseis anos através de Mensagem, único livro publicado pelo autor em vida.


Livro do desassossego publicado pela Todavia

Recentemente, a editora Todavia publicou uma reedição de Livro do desassossego, com organização e introdução de Jerónimo Pizarro e posfácio de Tiago Ferro; o volume foi resenhado por Carlos Adriano na edição de janeiro da Quatro Cinco Um


Livro do desassossego publicado pela Tinta-da-China

A Tinta-da-China Brasil também prepara uma reimpressão dessa mesma obra, organizada por Pizarro, mas mantendo a ortografia original de Pessoa, que deve ser lançada ainda neste semestre. Pizarro é coordenador da Coleção Fernando Pessoa pela mesma editora.

O um e os múltiplos

O grande poeta é conhecido por alguns dos versos mais citados da língua portuguesa. Quem não conhece o “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena?”. Ou então, “Ó mar salgado, quanto do seu sal/ São lágrimas de Portugal?”. Tão famoso quanto ele são seus heterônimos: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.


Pessoa: uma biografia, de Richard Zenith

No final do ano passado, foi lançado pela Companhia das Letras Pessoa: uma biografia, de Richard Zenith e com tradução de Pedro Maia Soares.


Edição 47 da Quatro Cinco Um

Essa biografia, escrita originalmente em inglês, foi resenhada por Carlos Adriano, na edição 47 da Quatro Cinco Um. “Com substância crítica, ímpeto de pesquisa e conhecimento de causa, o autor tem credenciais para enfrentar o desafio de escrever a história da vida plural de Pessoa”, escreve ele. Esse livro, aliás, foi capa de uma edição da revista, com ilustração da portuguesa Susa Monteiro.


Mensagem, edição da Todavia

Carlos Adriano escreveu também sobre a obra Mensagem, que saiu pela editora Todavia.

Da filosofia ao Tropicalismo

Neste episódio do 451 MHz, Wisnik comenta a influência de Fernando Pessoa na música popular brasileira e explica como o Tropicalismo deve muito ao poeta portugês. Entre as canções mencionadas, falou de “Segue o teu destino”, composição de Sueli Costa a partir de poema de Ricardo Reis, e que podemos ouvir na voz de Nana Caymmi.

Outra canção lembrada foi “O rio da minha aldeia”, de Tom Jobim, que musicou o poema de Alberto Caeiro.

Caetano Veloso é outro influenciado por Mensagem, que leu na sua juventude, e que aparece com frequência nas suas composições. Wisnik observa que Verdade tropical, biografia de Caetano, relançado em 2017 pela Companhia das Letras, reflete sobre o destino da língua portuguesa no mundo, muito influenciado pelo sebastianismo de Fernando Pessoa a partir do pensamento de Agostinho da Silva.

Em “É proibido proibir”, Caetano recita no meio da canção um poema de Mensagem.

Em “Padrão”, também aparecem referências à obra.

Em defesa da percepção da poesia de Fernando Pessoa enquanto filosofia, Wisnik relembra o trabalho de Alan Badiou, com Pequeno manual de inestética, lançado em 2002 pela Estação Liberdade.

 
Pequeno manual de inestética, de Alan Badiou, e Fernando Pessoa, ou a metafísica das sensações, de José Gil

Ele também destaca Fernando Pessoa, ou a metafísica das sensações, de José Gil, que saiu pela editora n-1, em 2020, e cujo prefácio foi escrito pelo próprio Wisnik.

Para começar a ler Fernando Pessoa, Wisnik recomenda dois livros de Haquira Osakabe: Fernando Pessoa: entre almas e estrelas (que saiu primeiro pela coleção Folha Explica) e Fernando Pessoa: resposta à decadência, publicado pela editora Iluminuras. Nessas, percebe-se como Fernando Pessoa defende uma espécie de retorno ao neopaganismo sob a forma poética de Alberto Caeiro.

O melhor da literatura LGBTQIA+

O ator e escritor Sallié Oliveira, autor de Grande casa à beira da estrada (Patuá, 2022), indica a leitura de The Tradition (A tradição), livro de poesia de Jericho Brown publicado em 2019 pela Copper Canyon Press e ganhador do prêmio Pulitzer. A obra ainda não foi publicada no Brasil.

O livro faz pensar sobre poesia de modo abstrato, e também sobre memória, além do terror passado pelo homem negro gay nos Estados Unidos.

Confira a lista completa de indicações dadas no podcast 451 MHz, no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.

O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação Quatro cinco um.
Apresentação: Paulo Werneck
Coordenação Geral: Évelin Argenta e Paula Scarpin
Produção: Ashiley Calvo
Edição: Gabriela Varella
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace e Luís Rodrigues, da Pipoca Sound
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: FêCris Vasconcellos
Para falar com a equipe: [email protected].br