Listão da Semana, Política,
20 novos livros para ler em tempos de eleições
Populismo, negacionismo, fascismo, a trajetória do PT e a história do clã Bolsonaro são temas de lançamentos
29set2022Com a iminência das eleições mais importantes desde a redemocratização, a escolha lúcida e informada de voto se faz urgente. Aqui, reunimos vinte títulos que ajudam a pensar um projeto de Brasil mais justo, inclusivo, sustentável e próspero. Na seleção estão títulos que exploram o imaginário político das mulheres brasileiras, o papel dos algoritmos na desigualdade e de que são constituídas as ideias de populismo, negacionismo e fascismo, além de outros temas que ajudam a entender o que está em jogo na disputa eleitoral de 2022 — e como chegamos até aqui.
A an-arquia que vem: fragmentos de um dicionário de política radical. Andityas Soares de Moura Costa Matos.
Sobinfluência • 166 pp • R$ 65
Com prefácio do filósofo italiano Roberto Esposito, o livro sustenta que a presente crise da democracia resulta da dicionarização da política. O autor discute os conceitos de morte e linguagem, utopia e distopia, comunidade e comando, povo e democracia, estado de exceção e desobediência civil.
A herança do golpe. Jessé Souza.
Record • 182 pp • R$ 49,90
Jessé Souza, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explica que a história do Brasil está marcada pela escravidão, que condenou toda uma classe à miséria, e que os governos que tentam redimir os pobres são derrubados por golpes sob o pretexto fajuto do “combate à corrupção”, que visa preservar os privilégios da elite e da classe média. Segundo ele, o bolsonarismo manipula os remediados e os evangélicos, dirigindo o ressentimento desses grupos contra os negros e os miseráveis.
A mão e a luva: o que elege um presidente. Alberto Carlos Almeida & Tiago Garrido.
Record • 336 pp • R$ 69,90
Analisando as últimas oito eleições presidenciais, os autores mostram como as pesquisas de opinião refletem o sentimento público antes do pleito e influenciam os resultados das urnas. Segundo eles, paira um sentimento da opinião pública que favorece um candidato, e ele caminha para vencer independentemente dos acontecimentos de cada campanha.
Mais Lidas
Algoritmos de destruição em massa: como o Big Data aumenta a desigualdade e ameaça a democracia. Cathy O’ Neil.
Trad. Rafael Abraham • Rua do Sabão • 342 pp • R$ 64
Habitamos um mundo em que, induzidos pelos algoritmos, tomamos decisões cruciais. Em tese, isso deveria nos conduzir a uma sociedade mais justa, onde todos seriam julgados segundo regras objetivas. Na realidade ocorre o contrário: os modelos matemáticos usados reforçam a discriminação e a desigualdade — se um estudante pobre não consegue tomar um empréstimo bancário porque o modelo matemático considera o negócio arriscado em razão do bairro em que ele reside, ele também é recusado na universidade que poderia tirá-lo da miséria. Os algoritmos criaram uma espiral discriminatória, amparando os privilegiados e punindo os oprimidos.
Crítica do fascismo. Alysson Leandro Mascaro.
Boitempo • 160 pp • R$ 53
O jurista e filósofo do direito Alysson Leandro Mascaro examina as diversas teorias sobre o fascismo, contrapondo as leituras marxistas (Poulantzas, Horkheimer, Pollock e sobretudo Pachukanis) às liberais (Arendt, Eco, Mises, Hayek); relaciona fascismo com subjetividade jurídica e expõe as teses de Slavoj Žižek.
Diante do fascismo. Paulo Roberto Pires.
Tinta-da-China Brasil • 240 pp • R$ 74
Em 34 crônicas, Paulo Roberto Pires, jornalista, editor e colunista da Quatro Cinco Um, observa a ascensão do bolsonarismo e da política de perseguição às artes, à universidade, ao jornalismo e aos direitos humanos. A partir de episódios cotidianos, destacando a isenção de diversas figuras cruciais do debate público, Pires escrutina a instauração de um fascismo à brasileira.
“Tudo indica que, na última década, o Brasil ressuscitou a estupidez de outrora. Sendo assim, em revide simétrico, Paulo Roberto Pires decidiu reavivar a inteligência sarcástica que fez oposição loquaz — e incômoda — a essa mesma estupidez”, escreve José Guilherme Pereira Leite em resenha sobre o livro na Quatro Cinco Um. Leia aqui o texto na íntegra.
Dicionário dos negacionismos no Brasil. José Szwako & José Luiz Ratton (org.)
Cepe • 366 pp • R$ 60
Os professores José Szwako & José Luiz Ratton fazem uma introdução à atual crise democrática e organizam o dicionário que inclui verbetes sobre Bolsonaro (Marcos Nobre), economia (Vinicius Torres Freire), Revolta da Vacina (Lilia Schwarcz) e imprensa negacionista (Daniela Pinheiro).
Dicionaro, o dicionário de bolso. Carlos Castelo.
Hecatombe • 96 pp • R$ 45
Criador do grupo musical Língua de Trapo, Carlos Castelo faz um dicionário de termos relacionados ao governo Bolsonaro, com verbetes como: “Atirador de elite: profissional, treinado pela elite, para eliminar os indesejáveis da sociedade de modo cirúrgico” e “Ciência: invenção mentirosa do marxismo cultural. Qualquer cidadão de bem acredita que um técnico é mais útil que vários cientistas”.
Do que falamos quando falamos de populismo. Thomás Zicman de Barros & Miguel Lago.
Companhia das Letras • 160 pp • R$ 49,90
Dois cientistas políticos ligados à Sciences Po de Paris, Thomás Zicman de Barros & Miguel Lago, reconstituem a história do termo “populismo” e mostram que ele nem sempre teve a conotação negativa que apresenta hoje, tendo sido defendido por atores políticos no Brasil e em outros países. Eles discutem a caracterização de Lula e de Bolsonaro como populistas e argumentam que a simetria entre ambos é falsa e esconde a pluralidade que o termo abriga. Lago é um dos autores de Linguagem da destruição (Companhia das Letras, 2022), que investigou o projeto bolsonarista de destruição da democracia.
Extermínio: duzentos anos de um Estado genocida. Viviane Gouvêa.
Planeta • 256 pp • R$ 61,90
Neste ano, que marca o bicentenário da Independência, a pesquisadora do Arquivo Nacional Viviane Gouvêa mostra, com base em farta documentação pública, que há duzentos anos o Estado brasileiro massacra aqueles que tentaram mudar uma ordem social excludente, desumanizando negros, indígenas e camponeses.
Feminismo em disputa: um estudo sobre o imaginário político das mulheres brasileiras. Beatriz Della Costa, Camila Rocha & Esther Solano (org.).
Pref. Anielle Franco • Boitempo • 96 pp • R$ 39
As pesquisadoras Beatriz Della Costa, Camila Rocha e Esther Solano fazem uma ampla pesquisa qualitativa sobre a visão política de mulheres de vários espectros sociais e ideológicos para entender consensos e dissensos no que diz respeito ao feminismo hoje e, também, buscar entender como ampliar os direitos das brasileiras contando com o apoio de mais mulheres, de diferentes vertentes políticas.
Labirintos do fascismo: teia dos fascismos (vol. 1). João Bernardo.
Hedra • 440 pp • R$ 169,90
O primeiro volume desta obra monumental analisa a especificidade do fascismo como uma revolta dentro da ordem, a qual, em um contexto de uma desarticulação da classe trabalhadora, mobiliza as massas para um movimento insurrecional que, paradoxalmente, reforça a ordem capitalista. Os outros cinco volumes, todos assinados pelo ensaísta português João Bernardo, abordam as conexões do fascismo com o capitalismo, a forma como o movimento se alimentou da desagregação da massa trabalhadora, sua dimensão racial, suas formas de expressão artística, suas expressões terceiro-mundistas e sua presença atual.
Limites da democracia: de junho de 2013 ao governo Bolsonaro. Marcos Nobre.
Todavia • 320 pp • R$ 74,90/49,90
Presidente do Cebrap, o filósofo analisa a política brasileira na última década, sempre contextualizando a dinâmica interna do país no cenário internacional de crise do neoliberalismo. Além de expor as características do presidencialismo de coalizão adotado após a redemocratização de 1985, ele discute as manifestações de junho de 2013, o impeachment de Dilma, o papel da Operação Lava Jato na desestabilização do sistema político, a eleição de Jair Bolsonaro, a crise e a adaptação do peemedebismo ao governo e as perspectivas de um retorno à civilização.
“A nossa situação é tão ou mais dramática porque vivemos agora o esfacelamento de todo o mundo e das instituições pós-1945”, escreve Daniel Peres em resenha sobre o livro na Quatro Cinco Um. “Precisamos refazer o acordo entre economia e política invertendo a ordem que até agora prevaleceu. É preciso afirmar o primado da política e a necessidade de retomarmos a ideia de democracia, cujos limites estão em constante disputa.” Leia aqui o texto na íntegra.
Lula e a política da astúcia: de metalúrgico a presidente do Brasil. John D. French.
Expressão Popular/Fundação Perseu Abramo • 689 pp • R$ 80
Recorrendo a diversas fontes (incluindo relatórios de agências de inteligência), John D. French, professor da Duke University e autor de O ABC dos operários: conflitos e alianças de classe em São Paulo (1900-1950), reconstitui a trajetória de Lula no movimento sindical e na política, expondo como um migrante rural pobre em São Paulo virou a maior liderança da esquerda brasileira.
Multidões e partido. Jodi Dean.
Boitempo • 332 pp • R$ 93
A teórica política norte-americana Jodi Dean faz um estudo sobre o partido comunista como forma de fidelidade à descarga igualitária, que investiga a figura do “militante” comunista e mostra como a dimensão do comum emerge em fenômenos de massa, onde esse excesso de coletividade aparece.
O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro. Juliana Dal Piva.
Zahar/Companhia das Letras • 328 pp • R$ 84,90
Com base em mais de cinquenta entrevistas e cópias de autos judiciais, a jornalista Juliana Dal Piva mostra como a família do atual presidente acumulou milhões de reais desde a entrada de Bolsonaro na política com a ajuda de seus filhos e de suas ex-esposas, além de amigos e advogados.
O ovo da serpente — nova direita e bolsonarismo: seus bastidores, personagens e a chegada ao poder. Consuelo Dieguez.
Companhia das Letras • 328 pp • R$ 99,90
Baseando-se em entrevistas com políticos, empresários, militares, religiosos, fazendeiros e produtores agrícolas, Consuelo Dieguez expõe a ascensão da extrema direita a partir das manifestações de 2013 e a trajetória eleitoral de Jair Bolsonaro.
O populismo reacionário: ascensão e legado do bolsonarismo. Christian Lynch & Paulo Henrique Cassimiro.
Contracorrente • 100 pp • R$ 60
O livro faz uma análise do populismo da direita radical, guiado pela restauração da ordem anterior ao processo de redemocratização do país, pelo culto à ideia de família, pela presença massiva de militares no governo e pela adesão ao negacionismo e aos discursos baseados na linguagem das paixões.
PT, uma história. Celso Rocha de Barros.
Companhia das Letras • 488 pp • R$ 94,90
Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia pela Oxford e colunista da Folha de S.Paulo, reconstitui a história do Partido dos Trabalhadores e discute as possibilidades da sociedade brasileira, uma democracia de alta desigualdade. Além de produzir o líder mais popular da Nova República, o PT foi o grande vencedor das eleições presidenciais do período e também o bode expiatório dos defeitos do sistema para parte do povo brasileiro.
Quatro décadas com Lula: o poder de andar junto. Clara Ant.
Autêntica • 400 pp • R$ 68,90/ 48,90
Filha de judeus poloneses e militante do movimento sindical, Clara Ant conheceu Lula na década de 70, quando ambos faziam história no movimento sindical, e se tornou sua assessora em 1991. Ela descreve sua trajetória a partir de então, desde as Caravanas da Cidadania — em que Lula via de perto o sofrimento do povo e o descaso de grande parte das autoridades em relação a regiões pobres de todo o Brasil — até seu período no governo.
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