A Feira do Livro, Quadrinhos,

HQs contra a exclusão

Marcelo D’Salete e André Kitagawa falam da importância de criar histórias brasileiras e de sua relação com São Paulo

10jun2022

Amantes de quadrinhos tomaram o Palco da Praça nesta sexta (10) para ver dois grandes nomes da hq brasileira: Marcelo D’Salete, autor de Cumbe (2014) e Angola Janga (2017), lançados pela Veneta, e André Kitagawa, que, após um hiato de quinze anos, publicou Risca faca (Monstra). A mediação ficou a cargo de Clara Rellstab, colaboradora da Quatro Cinco Um. Dois autores premiados (Kitagawa ganhou o hq Mix de autor revelação, e D’Salete foi agraciado com o Eisner), eles já se conheciam da época em que trabalharam na revista Front, em São Paulo, e essa amizade continua, tanto que D’Salete prefaciou Risca faca.

A relação com a capital paulista e sua cultura de exclusão foram os temas que dominaram a conversa. “Sempre fez sentido as minhas histórias se passarem em São Paulo. Quando começamos a escrever, estávamos procurando a identidade de como fazer quadrinho brasileiro. Era difícil não ser influenciado pelas hqs americanas. Para desenhar uma rua tinha que parecer uma rua brasileira, e não uma rua de Nova York. Comecei a criar histórias realistas que se passavam em São Paulo, a partir das minhas vivências. Não tenho muito vivência na periferia, então absorvia histórias de pessoas que tinham. Sempre quis fazer ficção com histórias inspiradas nesta cidade”, contou Kitagawa.

Foi nas suas andanças que Marcelo D’Salete observou a cultura de exclusão na capital ao ter que se deslocar da Zona Leste, onde residia, para o centro, para ver exposições de arte: “A cultura de exclusão de São Paulo não é algo apenas simbólico: é evidente. Esse pensamento do condomínio é bem grande em São Paulo — é o espaço que se paga para não ter contato com outros pobres. Você paga uma estrutura para não ter contato com o povo. Essa realidade é importante saber ver, criticar e colocar nas nossas histórias”.

“Quando faço minhas histórias, não tenho a intenção de colocar alguma crítica à cidade: é uma coisa que naturalmente entra. Por que não colocar? Faz parte da nossa realidade e se infiltra na história, porque é o que é”, emendou Kitagawa.

Quem escreveu esse texto

Paula Carvalho

Jornalista e historiadora, é autora e organizadora de ireito à vagabundagem: as viagens de Isabelle Eberhardt (Fósforo).