Fichamento,

Mariana Felix

Novo livro da slammer reúne cantigas de luta, feminismo, desamor, autocuidado e ‘bem-querença’

01dez2023

Nos poemas de Minha liberdade não te serve (WMF Martins Fontes), Mariana Felix celebra suas parceiras, fontes de inspiração e a literatura marginal das periferias, além de deixar seu recado contra o machismo, o racismo e outras formas de discriminação e opressão.


Minha liberdade não te serve é dividido em quatro seções: Cantigas de luta, Cantigas de desamor, Cantigas de autocuidado e Cantigas de bem-querença, onde Mariana Felix aborda as lutas e os prazeres das mulheres

Você vem do slam, da poesia falada, e Minha liberdade não te serve é seu quinto livro. Como tem sido passar da poesia declamada para a impressa em papel?
Quando conheci o slam, eu me apaixonei por esse “esporte da palavra” e escrevi muito para ganhar nessas competições. Meus três primeiros livros são a reunião desses escritos. O quarto não é poesia de slam, é uma reunião de uma coluna que eu tinha no Facebook chamada “Sexo, drogas e feminismo”, textos em prosa. Minha liberdade não te serve é uma mistura das minhas poesias feministas de slam — as mais potentes, as mais viralizadas na internet — e quinze textos inéditos, que escrevi especialmente para o livro.

Para quem serve sua liberdade?
Para mim. Ela me serve e me veste bem. Livre sou mais feliz, mais bonita, fico mais divertida, produtiva, inspirada. Minha liberdade é uma roupa sob medida, só serve a mim mesma. Quando serviu para decisões ou opiniões de outras pessoas, fiquei triste, muito cinza, me tornei uma pessoa apagada, não autêntica.

Como sociedade, temos uma liberdade imaginária, é um surto coletivo acreditar que somos livres de verdade. No dia a dia a gente só tem como sair desse surto se respeitarmos nossas liberdades individuais e pudermos dizer do que a gente gosta: “Eu posso sim amar outra mulher com tudo que ela tem para me oferecer. Eu gosto sim de dirigir ônibus, poderia contribuir para a sociedade dessa maneira, sendo bem remunerado, tendo meu trabalho valorizado”, e assim por diante.

Quando a gente entender que todos podem trabalhar de forma digna, podem amar como quiserem, quando tivermos nossas liberdades individuais respeitadas, chegaremos a um mundo um pouco mais bonito, um pouco mais livre de fato. Estamos aprisionados pelo capitalismo, pelo machismo, pelo racismo, então nossa liberdade é uma utopia, mas dá para lutar por ela todo dia.

Para quem você dá um salve?
Dou um salve para todas as produtoras e todos os produtores de literatura marginal das periferias. São pessoas com quem eu ando, troco inspirações, ideias, que eu respeito e que me fazem não deixar de acreditar. Dou um salve para as minhas amigas que fazem poesias, mulheres incríveis que mudaram minha trajetória. Meu maior salve é para essa mulherada que muda a vida das pessoas por meio da literatura.

Quem convida para o abraço?
Posso convidar qualquer pessoa, desde que haja respeito. Por eu me expor tanto, tenho muito cuidado, especialmente com os homens. Não tenho muita paciência para gracinhas nem intimidade. Tenho várias melhores amigas, mas são pouquíssimos os homens que amo, que escolho para ser melhor amigo ou namorado. Sou uma hétero tradicional: acho que as mulheres heterossexuais são muito afetivas com mulheres e fazem sexo com homens. É senso comum, mas gosto desse lugar. Demorou para eu me entender nele, mas hoje sei com tranquilidade que as pessoas que amo estar ao lado são as mulheres, elas eu convido para o abraço sempre.

Qual o seu mantra do autocuidado? 
Já tive fases de mantras que envolviam mais o amor, mas como isso já está bem resolvido, estou bem tranquila ultimamente — chamo isso de milagre —, meu mantra atual é: “Onde tiver poesia, siga esse caminho”. A poesia é minha bússola, uma amiga minha muito generosa, com quem estou. Com ela estou bem guardada.

Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, , editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34)