Filosofia,

Para Hannah, com amor

Biografias buscam compreender o relacionamento afetivo entre Arendt, autora do clássico ‘Origens do totalitarismo’, e seu professor Martin Heidegger, filósofo simpatizante do nazismo

24out2021

O que leva um autor a escrever uma biografia de uma pensadora como Hannah Arendt? Como pontuou sua primeira biógrafa, Elisabeth Young-Bruehl, porque considera que se trata de uma vida que merece ser relatada. Esse foi o ponto de partida do seu Hannah Arendt, por amor ao mundo, publicado em 1982 nos Estados Unidos, sete anos após o falecimento da pensadora, em 1975, aos 69 anos, tendo sido editado no Brasil em 1997.

É um trabalho notável, escrito por quem conheceu bem Arendt e foi sua aluna. O livro está lastreado num abrangente conhecimento de sua obra e numa cuidadosa e dedicada pesquisa de seus papéis. Cobre todo o percurso de sua vida e ilumina com discernimento a sua trajetória. É um relato exemplar de como um ser humano lidou com tempos sombrios e, na condição de judia alemã, formada na grande tradição cultural germânica, enfrentou e interagiu com as rupturas do século 20. Viveu na França na década de 30 o seu exílio do nazismo. Logrou radicar-se nos Estados Unidos a partir da década de 40. Lá, elaborou em termos muito próprios o conhecimento vivificado pela experiência em “modo de ser” e um “modo de ver” que permeiam a sua obra.

A biografia de Young-Bruehl tem o componente de ein Lebensbild — construção de uma vida. Nessa construção a objetividade não exclui afeto, tato e admiração, como afirmei quando o comentei logo após a publicação.

No prefácio à segunda edição do livro, em 2004, Young-Bruehl aponta que, quando o escreveu, Hannah Arendt não havia adquirido o status de uma figura pública. A persona de uma figura pública é identificada no espaço público pelo papel que nele desempenha, como observou Arendt, o que, no entanto, não a define, como ela mesma pontuou ao receber, pouco antes de sua morte, o reconhecimento do prêmio Sonning pela sua contribuição à civilização europeia.

I

Faço essas considerações porque o bom entendimento de duas biografias recém-traduzidas, a de Antonia Grunenberg, Hannah Arendt & Martin Heidegger: história de um amor (Perspectiva, 2019), e a de Ann Heberlein, Arendt: entre o amor e o mal — uma biografia (Companhia das Letras, 2021), ganham um foco apropriado se inseridas no âmbito do alcance que Arendt adquiriu como uma das grandes pensadoras do século 20. Tornou-se, com efeito, uma figura histórica, uma persona, diferente do ser individualizado da professora e pensadora que impactou com a viva voz da sua presença pessoas como sua primeira biógrafa e eu, que fui seu aluno em 1965, na Universidade Cornell.

O que estou querendo destacar é que as biografias de Grunenberg e de Heberlein, assim como muitas outras já publicadas, partem de uma perspectiva mais “de fora” do que “de dentro” do que foi o mundo próprio arendtiano. Ganham se analisadas levando-se em conta o modo como a obra e a vida de Hannah Arendt adquiriram uma ressonância que resultou da sua transformação numa figura pública do mundo do pensamento.

II

A publicação em 1951, nos Estados Unidos, de Origens do totalitarismo revelou a importância de Arendt como uma pensadora densa e original que iluminou a abrangência das rupturas que o século 20 trouxe à tona. O alcance da reflexão arendtiana logrou contornos ainda mais relevantes com seus livros subsequentes, todos disponíveis em português. O relato arendtiano sobre o processo Eichmann e a banalidade do mal (1969) suscitou muitas controvérsias e tornou sua presença no espaço público ainda mais visível.

Quando Hannah Arendt faleceu, em 1975, e pouco tempo depois, quando Young-Bruehl escreveu o seu livro, a sua importância era reconhecida. Não havia, no entanto, pleno consenso em torno da pertinência da sua obra para o entendimento do mundo contemporâneo como verifiquei quando comecei a me dedicar à recepção de sua obra em nosso país. Prevalecia, em surdina, um certo desconforto em relação a uma intelectual que pensava com coragem pela sua própria cabeça e cuja obra não se amoldava aos âmbitos das tradicionais disciplinas acadêmicas (teoria política, história, filosofia) nem sua persona se enquadrava nos cânones políticos usuais (esquerda/direita; conservadora/libertária etc.).

O tempo consolidou uma avaliação que fez de Arendt uma figura pública e histórica. Ela é uma das mais eminentes pensadoras do século 20 e a sua obra reúne, como tenho dito, os atributos de um “clássico”. É uma interpretação autêntica e válida do mundo em que viveu e guarda permanente atualidade que instiga releituras, pois seus conceitos, categorias e narrativas retêm validade para a compreensão de uma realidade distinta da época em que foram elaborados. Esses atributos, mencionados por Bobbio, explicam por que Hannah Arendt é, na formulação de Italo Calvino, um “clássico”: sua obra nunca termina de dizer o que tem a dizer.

Daí a sua excepcional fortuna crítica e a irradiação de seu pensamento, como atesta a sempre crescente bibliografia dedicada à sua obra. Gerações de estudiosos vêm se debruçando sobre seus textos em função da variedade de interesses e perspectivas que suscitam, oferecendo leituras distintas nas quais estão igualmente presentes a agenda de sensibilidades orteguianas de muitas gerações.

Para a contínua irradiação da obra arendtiana também contribuiu a ampliação do seu corpus. É o que se verificou com a publicação póstuma de textos inéditos e com a organização de seus textos dispersos, que muito deve a Jerome Kohn, seu testamenteiro literário e antigo aluno, que foi colega e amigo de Young-Bruehl.

Também é relevante a publicação póstuma da correspondência de Arendt, que oferece indicações sobre os caminhos de sua vida e seus pensamentos. Integram a sua epistolografia a correspondência com dois grandes filósofos, Karl Jaspers (1926-69) e Martin Heidegger (1925- 75), que foram seus professores na Alemanha; com sua amiga, a escritora norte-americana Mary McCarthy (1947-75); e com seu segundo marido, Heinrich Blücher (1936-68).

III

A vida de Hannah Arendt não foi anódina como, por exemplo, a de Kant, que ela tanto admirava. A política do século 20 configurou seus caminhos. Escrever sobre sua vida é assim uma empreitada esclarecedora do mundo em que viveu e pensou. A isso cabe agregar, como ela destacou em Entre o passado e o futuro, que, numa época em que os universais que se tornaram fugidios pelas rupturas que corroem a tradição, a experiência adquire uma importância epistemológica, pois serve de respaldo para conferir a baliza dos conceitos e das categorias.

Em meu livro de 1988 A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt, destaquei como o seu inovador conceito do “direito a ter direitos” tem como uma das fontes de inspiração  sua experiência de ter sido uma refugiada, destituída dos benefícios do acesso à legitimidade.

Os inúmeros estudos dedicados à obra de Arendt resultam, como mencionei, das distintas perspectivas de autores que nela encontraram instigação para lidar com os temas de seu interesse, pois a sua reflexão nunca termina de dizer o que tem para dizer.

De maneira semelhante, muitas biografias escritas sobre ela partem do interesse dos biógrafos sobre o que a sua vida revela. Julia Kristeva, atenta ao papel da narrativa, inclui Arendt em seu tríptico sobre o gênio feminino; Martine Leibovici, tratando da condição judaica, escreveu Hannah Arendt, uma judia, experiência, política e história; Sylvie Courtine-Denamy, em Hannah Arendt, traça as convergências entre os temas da identidade e da memória e os caminhos de uma obra que pensou o judaísmo, o totalitarismo, a modernidade, os Estados Unidos e o pensar.

Como muitas outras, asbiografias partem deuma perspectiva mais ‘defora’ do que ‘de dentro

Têm outras facetas as biografias de Grunenberg e Heberlein. Com efeito, no consenso generalizado em torno de Hannah Arendt, persistem duas questões polêmicas. A primeira relaciona-se às controvérsias acerca de seu relato sobre o processo Eichmann e sua análise sobre a banalidade do mal. Um tema que a própria Arendt procurou dirimir em conhecida carta-resposta ao questionamento que lhe fez o filósofo Gershom Scholem. Scholem e Arendt foram bons amigos, unidos pela admiração e dedicação a Walter Benjamin e à sua obra. Do significado do seu relacionamento e do empenho que tiveram na recuperação dos ativos culturais judaicos que sobreviveram ao nazismo, dá conta a correspondência que mantiveram no correr dos anos e que foi publicada em 2010.

A discussão Scholem/Arendt sobre a banalidade do mal e o mal radical e outros textos sobre a questão encontram-se no livro Hannah Arendt: escritos judaicos (organizado por Jerome Kohn e Ron H. Feldman e publicado no Brasil em 2016 pela Manole), assim como nos ensaios de maior abrangência reunidos em Responsabilidade e julgamento (organização e introdução de Jerome Kohn e apresentação de Bethânia Assy na edição de 2004 da Companhia das Letras).

O outro tema diz respeito à continuidade dos seus vínculos com Heidegger, um fato que se tornou de conhecimento público depois de seu falecimento e que foi revelado com tato pela biografia de Young-Bruehl. Esses vínculos Arendt não discutiu publicamente, mas é deles que tratam as biografias de Grunenberg e de Heberlein, a partir de suas próprias perspectivas e sensibilidades e que, como Arendt disse a propósito de si mesma, como autoras femini generis.

IV

Hannah Arendt foi aluna de Heidegger, na década de 20, na efervescência cultural da República de Weimar. Com ele teve uma relação amorosa e, como sua jovem discípula, foi por ele influenciada intelectualmente. Com ele retomou em 1950, após a ruptura do nazismo e a derrocada da Alemanha, um relacionamento de diálogo com a sua obra e a sua pessoa, que se manteve no correr de sua vida. A extensão desse relacionamento só se tornou efetivamente do conhecimento público após o falecimento de Arendt, com a publicação da biografia de Young-Bruehl.

Um relacionamento entre duas das mais significativas personalidades do mundo das ideias tem uma singularidade que suscita naturalmente curiosidade e interesse, que vão além da importância própria dos dois no cenário intelectual do século 20. Sobre o significado do diálogo no plano das ideias, há muitos livros de qualidade. Entre eles, os de Jacques Taminiaux (1992), Dana R. Villa (1996) e Simona Forti (1996). A publicação da correspondência Jaspers/Arendt e Heidegger/Arendt traz elementos para o significado no tempo desse vínculo.

A biografia de Grunenberg começa apontando a razão do desconforto a propósito de uma relação que fere a sensibilidade política e pessoal de muitos dos seus leitores. Como uma judia pode afeiçoar-se a seu professor em vias de abraçar o nazismo? Como depois da guerra, e em contraste com muitos dos antigos alunos e admiradores de Heidegger, ela retomou um relacionamento, quando era inquestionável o abismo político que os separava? Como a autora de Origens do totalitarismo, que desvendou os horrores da dominação nazista, se sentiu à vontade para visitar e interagir com um personagem que nunca negou o que foi a sua adesão ao nazismo e ao seu constitutivo antissemitismo?

Grunenberg é uma grande arendtiana e uma conhecedora da obra de Heidegger e do seu significado intelectual. É com o lastro desse conhecimento que elaborou a sua compreensão dos vínculos de Heidegger e Arendt. Sublinha que a compreensão dessa relação passa pelo entrecruzamento de dois temas: o amor e o pensamento, cujos meandros transitam pelo amor em todas as suas variações: eros e ágape, fidelidade e traição, paixão e rotina, reconciliação, esquecimento e lembrança. Grunenberg explora na sua biografia esse entrecruzamento por meio de um relato de vidas paralelas que se tocam, ora fomentando a aproximação, ora o distanciamento. O seu objetivo foi desconstruir os estereótipos simplificadores de um longo relacionamento.

No meu entender de devotado estudioso de Arendt, ela foi impactada quando foi sua aluna pela originalidade e envergadura do pensamento de Heidegger, como explicitou em texto que escreveu quando ele fez oitenta anos e foi publicado em Homens em tempos sombrios. Ela muito deve à leitura heideggeriana da linguagem como preservação e revelação e à relação entre ser e temporalidade que ele analisou fenomenologicamente em Ser e tempo, elaborado quando Arendt foi sua aluna e, como reconheceu, uma musa inspiradora. Dele, no entanto, se diferenciou inequivocamente no seu percurso, pois Arendt se preocupou com o Mundo e ele se dedicou ao Ser. Ou seja, para Hannah Arendt a exclusiva dedicação heideggeriana à história do ser, o obnubilava para a história humana. Em contraste, ela dedicou-se a entender as rupturas histórico-políticas trazidas pelo século 20 e a encetar com originalidade própria a reflexão sobre como possibilitar o amor mundi.

São resvalosos os vínculos que uniram Heidegger e Arendt e as relações entre os intelectuais e a política

Em síntese, se o “método de reflexão” de Hannah Arendt muito deve à tradição filosófica alemã, na qual ela se formou, o seu modo de ser e de ver os grandes temas aos quais se dedicou, como a importância da natalidade (não a da morte), da ação, da pluralidade da condição humana, da comunidade, do diálogo, nada tem de heideggeriano. Mesmo o seu último livro, publicado postumamente e não concluído, A vida do espírito, no qual discutiu o pensar e o querer, e apenas deu indicações sobre o julgar, que é um acerto de contas reflexivo a respeito da tradição filosófica de qual proveio, inclusive Heidegger, sua grande contribuição à vita contemplativa foi elaborado tendo como horizonte a vita activa.

Cabe mencionar que em A vida do espírito, sobretudo no volume dedicado ao pensar, ela discute a reflexão heideggeriana, cuja obra filosófica ela conhecia em profundidade. Em contraste, não há registro de suas leituras ou comentários sobre a obra de Arendt, o que não ocorre no seu relacionamento pessoal e epistolar com Jaspers. Trata-se de uma assimetria intelectual, num longo relacionamento que não excluiu o afeto e o diálogo.

Para arrematar estas considerações sobre a biografia de Antonia Grunenberg e encetar a análise da biografia de Ann Heberlein, cabe recordar aqui a frase de Balzac que serviu de epígrafe ao ensaio de Hannah Arendt sobre a escritora Isak Dinesen que integra o livro Homens em tempos sombrios: “As grandes paixões são raras como as obras-primas”.

V

“A flor do amor tem muitos nomes” e “O amor dá as costas a toda reprovação”, lê-se em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, no qual também se registra “Todo caminho da gente é resvaloso”. São resvalosos os vínculos afetivos que uniram Heidegger e Arendt. São também resvalosas as relações entre os intelectuais e a política no mundo em que ela viveu. Essa foi uma das facetas do curso de Arendt sobre as experiências políticas do século 20, no qual fui seu aluno na Cornell, em 1965.

Guardo a lembrança do que ela disse sobre Brecht e sobre como a sua sedução pela sereia do stalinismo afetou sua produção poética, como ela apontava evocando um poema de Auden. O poema é a epígrafe de seu ensaio de 1966, “Bertolt Brecht: 1898-1956”, recolhido em Homens em tempos sombrios. No fecho desse ensaio, ela aponta que “todo julgamento está aberto ao perdão, todo ato de julgar pode se converter num ato de perdão; julgar e perdoar são apenas dois lados de uma mesma moeda”, mas seguem, continua ela, regras diversas e instâncias distintas. “Sempre perdoamos alguém, nunca algo e é por isso que as pessoas acham que só o amor pode perdoar”, observou ela. É nessa esfera ampliada que se situa a biografia de Heberlein.

A isso acrescento que Arendt concede uma latitude na sua avaliação de Brecht e, reconhecendo a sua grandeza poética, cita um dito latino: “Quod licet Iovi non licet bovi” (o que é permitido a Júpiter não é permitido a um boi). Arendt aceita essa desigualdade na instância de avaliação de Brecht e no privilégio que nele reconhece de grande poeta, pontuando “que existem certas coisas que ele não pode fazer e ainda continua a ser o que é”.

Em síntese, buscando desvendar a compreensão dos vínculos Arendt/Heidegger, Heberlein volta-se para uma reflexão, lastreada na vida e na obra de Arendt, de por que Heidegger continua sendo para ela “o que é”, independentemente das coisas que não podia fazer, tendo como pano de fundo o “Quod licet Iovi non licet bovi”.

O livro de Heberlein não tem a envergadura intelectual da biografia de Grunenberg, mas tem a pertinência de quem tomou conhecimento da reflexão arendtiana no início da década de 90, quando estudava teologia na Universidade de Lund, na Suécia. Cativada pela obra de Arendt, registra que a reflexão arendtiana sobre o perdão foi essencial para a sua tese de doutoramento “Ofensas e perdão”. Essa foi a instigação que a levou a escrever a biografia de Hannah Arendt, concentrando-se nos acontecimentos de sua vida e de seu pensamento ligados a experiências concretas. O seu ângulo não foi o do entrecruzamento de vida e pensamento, como a biografia de Grunenberg.

“A arma de Hannah Arendt contra o mal era o seu intelecto”, inclusive para lidar com o mal específico que se manifestou no antissemitismo, destaca Heberlein. Ela enfrentou o tema do mal em Origens do totalitarismo, Sobre a violência e Responsabilidade e julgamento, e a sua compreensão do mal foi tingida pela experiência na confrontação com “aquilo que nunca deveria ter acontecido”: os campos de concentração. O tema arendtiano do amor mundi coloca o desafio de como podemos amar o mundo após o Holocausto, pontua Heberlein, acentuando que requer a capacidade de compromisso, reflexão e discernimento.

O mundo para Hannah Arendt se caracteriza pela pluralidade da condição humana. Dessa pluralidade se afasta o filósofo para poder pensar; e o par amoroso, para se dedicar plenamente um ao outro, registrou Arendt no seu Diário do pensamento em janeiro de 1954. Ela retoma o tema com abrangência na parte referente à ação em A condição humana, seu grande livro sobre a vita activa de 1958, que se seguiu a Origens do totalitarismo. Para lidar no mundo com a irreversibilidade e a imprevisibilidade da criatividade da ação, Hannah Arendt aponta os caminhos do poder estabilizador da promessa que contém a imprevisibilidade e do poder de perdoar como a redenção possível para a vicissitude da irreversibilidade, ou seja, a incapacidade de se desfazer o que se fez.

Diz Hannah Arendt: “O perdão e a relação que ele estabelece constituem sempre um assunto eminentemente pessoal (embora não necessariamente individual ou privado), no qual o que foi feito é perdoado em consideração a quem o fez”. Acrescenta que o amor, que é uma das mais raras ocorrências na vida humana, tem um poder de autorrevelação para perceber o quem. É nessas águas que Heberlein, com conhecimento e sensibilidade, constrói sua biografia de Hannah Arendt e elabora os vínculos da pensadora com Heidegger e a sua reconciliação e aceitação do seu quem.

Hannah Arendt, na sua tese de doutoramento na Alemanha, em 1929, sobre o conceito de amor em Santo Agostinho, tem uma passagem, citada por Heberlein, na qual afirma: “O que em última instância afasta o medo da morte não é a esperança ou o desejo, mas a recordação e a gratidão”. É uma válida referência para arrematar estas considerações sobre a biografia que Heberlein dedicou a Hannah Arendt.

Quem escreveu esse texto

Celso Lafer

Professor emérito da USP e ex-chanceler, é autor de A reconstrução dos direitos humanos (Companhia das Letras).