A Feira do Livro,

Pandemia fez as pessoas se abrirem para os audiolivros, acredita Maria Carvalhosa

Em mesa com Isabel Teixeira, curadora de audiolivros disse que foi ao ficar cega que percebeu a falta de obras nesse formato

09jun2023 | Edição #70

Uma abertura para fazer as coisas de modo diferente causada pela pandemia. Foi assim que Maria Stockler Carvalhosa, escritora e curadora da editora Supersônica (que produz audiolivros), explicou o aumento do interesse por esse formato, na mesa Na escuta, d’A Feira do Livro.

“Na pandemia, minha sensação era que todo mundo tinha virado deficiente também, porque não podia sair de casa, não podia fazer nada. Então estava todo mundo mais aberto a fazer as coisas de maneira diferente. Foi o momento mais empático que já vivi”, disse.


Isabel Teixeira e Maria Stockler Carvalhosa [Gabriel Cabral]

Carvalhosa dividiu o palco nesta sexta, 9, com a atriz Isabel Teixeira e com a mediadora Isabelle Moreira Lima, jornalista da Gama. A mesa foi marcada por um clima descontraído, mas de muita paixão por audiolivros, com a participação especial de Café, cão-guia de Carvalhosa. Café protagonizou uma cena fofa no início do bate-papo, ao receber água de Teixeira em uma caneca d’A Feira. Depois ele se deitou aos pés de sua tutora e permaneceu ali, quietinho, até o final do bate-papo.

Teixeira, que fez sucesso no papel de Maria Bruaca na novela Pantanal, também tem se aventurado no mundo dos audiolivros, narrando os livros da vencedora do Nobel Annie Ernaux. “Eu acho que, como atriz, como leitora, eu ainda estou descobrindo o que faz um bom audiolivro. Eu erro muito. Tem coisas muito sutis. Outro dia a [diretora] Daniela Thomas falou: ‘Tem que ter mais sol, porque a Annie Ernaux não sofre’. Olha que lindo, colocar Sol na voz. Outra coisa é que eu visualizo tudo que eu estou lendo”. Os audiolivros de Ernaux estão sendo publicados pela Supersônica, com a supervisão de Thomas.


Visitantes d’A Feira do Livro assistem à mesa Na escuta  [Gabriel Cabral/Divulgação]

Carvalhosa contou como surgiu a editora. “A Supersônica nasceu de um artigo que eu escrevi em 2021 para a Quatro Cinco Um sobre audiolivros, e a Daniela Thomas pensou que precisávamos fazer algo para suprir essa carência de audiolivros que eu tinha depois de ficar cega. A gente precisava entender como fazer pra uma pessoa que não enxerga ter essa experiência de poder mergulhar num livro da forma como as pessoas que enxergam fazem.”

Teixeira, que também é uma ouvinte ávida de audiolivros, contou que sua relação com o formato vem de muito longe, de quando era adolescente na década de 90 e descobriu o acervo sonoro da biblioteca do Centro Cultural São Paulo (CCSP). “Era um programa muito chique para uma adolescente fazer. Ali eu ouvi o Drummond, o Manuel Bandeira. Principalmente o Bandeira foi muito emocionante, porque era o tema da minha iniciação científica. É muito emotivo isso. Ele ficou comigo. Quando eu descobri os áudios do Cortázar lendo ele mesmo também foi um alumbramento. E fui indo, tudo foi se abrindo”, contou.

Para ela, audiolivros são também ferramentas muito importantes para uma sociedade que está perdendo a capacidade de escuta, além de uma forma de desacelerar. “Antigamente eu andava essa cidade inteira atrás dos livros nas bibliotecas. E hoje a gente tem tudo na palma da mão. E aprender a ouvir faz parte de aprender a aproveitar isso que a gente tem. Vamos escutar uns aos outros e aprender. Eu era a pessoa certa pra fazer isso, eu tinha que narrar audiolivros, porque pra mim isso é um manifesto.”

A Feira do Livro acontece de 7 a 11 de junho na praça Charles Miller, no Pacaembu, em São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Natalia Engler

É jornalista e pesquisadora de comunicação e gênero.

Matéria publicada na edição impressa #70 em maio de 2023.