Narradores do Brasil, Repertório 451 MHz,

Os mistérios de Lygia Fagundes Telles

O 451 MHz convida a fazer um mergulho sonoro pelo estranho universo da escritora que abriu caminhos e desafiou convenções literárias e sociais

25jun2021

Está no ar o segundo episódio da coleção Narradores do Brasil, do 451 MHz, o podcast da revista dos livros! Em formato narrativo, Os mistérios de Lygia Fagundes Telles faz um mergulho sonoro pelo estranho universo da escritora que abriu caminhos e desafiou convenções literárias e sociais e traz um texto inédito de sua autoria.

O episódio fala sobre o pioneirismo, o ser mulher e a escrita de Lygia, e analisa ainda aspectos políticos e eróticos na sua obra. Amigos de longa data e familiares revelam traços de sua personalidade e episódios da vida particular da escritora, como a perda do seu único filho. 

Os mistérios de Lygia Fagundes Telles também conta com a participação especial do poeta Carlos Drummond de Andrade, com uma carta e dois poemas escritos para a amiga, que eram desconhecidos dos pesquisadores; da atriz Adriana Esteves, que lê trechos de textos, e da multi-instrumentalista Maria Beraldo, que criou ilustrações sonoras especialmente para este episódio a partir de um estudo sonoro que ela fez da obra da Lygia. O roteiro e a apresentação ficaram a cargo de Paula Carvalho, editora da Quatro Cinco Um

Ouça aqui e agora:

Obra

Lygia Fagundes Telles nasceu em 1923 e é dona de uma obra extensa, iniciada em 1938 e que está sendo publicada pela editora Companhia das Letras. Entre os trechos de seus textos lidos no episódio por Adriana Esteves estão “Venha ver o por do sol”, “Antes do baile verde”, “Seminário dos ratos”, “A morte”, “As meninas”, “Ciranda de pedra” e “As horas nuas”.

            
 

Quando Lygia Fagundes Telles tinha quinze anos, publicou Porão e sobrado, com a ajuda do pai. Em seguida, vieram Praia viva e Cacto vermelho, livros de contos que foram renegados por ela mais tarde. Ciranda de pedra, seu primeiro romance publicado em 1954, é o livro que Antonio Candido considera como o marco da sua maturidade literária. O sucesso da obra – que foi duas vezes adaptado pela TV Globo como novela, uma em 1981 e outra em 2008 – fez com que alguns críticos comentassem que ela nunca mais voltaria aos contos. O que foi uma observação mal calculada.

    
 

A década de 70 viu o auge da sua produção literária, tendo publicado Antes do baile verde, que reúne alguns de seus contos mais célebres, como o que dá título ao livro (publicado anteriormente em O jardim selvagem, de 1965), “Venha ver o por do sol” (que foi publicado primeiro em Histórias do desencontro), entre outros. Seminário dos ratos, lançado em 1977, traz contos como “Tigrela” e “As Formigas”, um dos mais lidos da autora ao lado de “Venha ver o pôr do sol”. Ela se consolida como uma das maiores mestres do conto da literatura brasileira. Ambos os livros capturam muito bem a aura de estranhamento criada por Fagundes Telles em seus contos, em que não se sabe se há ou não algo sobrenatural acontecendo.


 

Em 1973, ela lançou As meninas, o seu romance mais conhecido. Traz a publicação de um relato de tortura que Fagundes Telles recebeu em casa, escrito em um panfleto. O livro mostra a sofisticação que a narrativa da escritora alcançou através de quatro narradores — um narrador em terceira pessoa e de três jovens universitárias: Lorena (a burguesinha rica que se apaixona por um homem mais velho casado), Lia (que se envolve com grupos clandestinos que combatem o regime militar) e Ana Clara (a mais bonita das três, que é modelo e dependente de drogas). Foi o vencedor do prêmio Jabuti, em 1974. Foi adaptado em 1995 para o cinema, com direção de Emiliano Ribeiro, com Adriana Esteves, Drica Moraes e Cláudia Liz nos papéis das “meninas”. Foi também o livro que acompanhou Letícia Chagas, estudante de direito, presidente do Centro Acadêmico Onze de Agosto da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e uma das entrevistadas do podcast, no ônibus na época em que ela estava prestando vestibular.
 


 

Fagundes Telles também foi presidente da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, fundada por Paulo Emilio Salles Gomes, que foi seu companheiro até a morte dele, em 1977, após se separar do seu primeiro marido, Gofredo Telles Júnior. Ela escreveu junto com Salles Gomes o roteiro de Capitu, filme de 1968 dirigido por Paulo Cezar Saraceni, uma adaptação cinematográfica da obra-prima machadiana.

Em março de 2021, a Flima (Festa Literária da Mantiqueira) fez uma homenagem especial a Lygia Fagundes Telles e aproveitou a ocasião para publicar o conto “A espera”, que nunca tinha sido publicado em livro.

Vozes
 


Lygia Fagundes Telles em foto de Adriana Vichi [Arquivo pessoal]
 

Áudios históricos de entrevistas com Lygia Fagundes Telles foram usados no episódio. As gravações vieram do programa Certas Palavras da Rádio Eldorado de 1989, que está no Acervo do Museu da Imagem e do Som de São Paulo; do documentário “Narrarte”, de 1990, dirigido por Gofredo Telles Neto; de “A Literatura de Lygia Fagundes Telles – Uma Homenagem” de 2011, do Itaú Cultural; do programa Roda Viva de 1996, da TV Cultura; do “O escritor por ele mesmo: Lygia Fagundes Telles”, de 1997, do Instituto Moreira Salles; e do documentário “Lygia, Uma Escritora Brasileira”, de 2017, de Hélio Goldsztejn.

Amigos, parentes e escritores contemporâneos também comentam a vida e a obra de Fagundes Telles. 
 


Lucia Telles [Arquivo pessoal]
 

Lucia Telles relembra a avó lendo histórias de terror na sua infância, momentos marcantes entre as duas e como tem sido trabalhar ao lado dela há mais de dezesseis anos. Lucia, além de ter disponibilizado o texto inédito de Fagundes Telles especialmente para este programa, também deu acesso a dois poemas escritos pelo poeta Carlos Drummond de Andrade para amiga e a uma carta que ele escreveu para a autora consolando-a após a morte, em 1977, do seu companheiro Paulo Emílio Salles Gomes, escritor, historiador, crítico de cinema e fundador da Cinemateca Brasileira. A própria Lucia lê os poemas e um trecho dessa carta nesse episódio especial.
 


Letícia Chagas [Arquivo pessoal]
 

Apesar dos abismos cronológicos, raciais e sociais que separam Fagundes Telles de Letícia Chagas é possível ver paralelos entre a trajetória das duas. Chagas está no quarto ano de direito e é presidente do Centro Acadêmico Onze de Agosto da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Ela é a primeira mulher negra a presidir essa tradicional entidade estudantil. No episódio, a estudante conta como Fagundes Telles inspira as outras mulheres que entram na instituição e como a autora é uma das poucas mulheres homenageadas na arquitetura do Largo São Francisco, ao ter uma sala batizada com o seu nome.  
 


Ignácio de Loyola Brandão [Letícia Gullo/ Arquivo pessoal]

        
 

O escritor Ignácio de Loyola Brandão é amigo de longa data de Lygia Fagundes Telles e participa desse episódio especial como convidado. Ele relembrou momentos nos quais passou com a amiga em viagens e elogiou o apuro com que escolhe os títulos das suas obras. Loyola Brandão é conhecido pela sua trilogia de romances distópicos: Zero, Não verás país nenhum e Desta terra nada vai sobrar, que foram lançados em um único box em 2019 pela editora Global. Esses títulos apareceram em texto assinado por Luisa Geisler da edição 29, que aborda o sucesso da ficção distópica no mercado brasileiro. 
 


Nilton Resende [Arquivo pessoal]

    


 

Nilton Resende, um dos convidados do programa, é professor adjunto da Universidade Estadual do Alagoas, Campus Zumbi dos Palmares. Ele também é escritor, tendo publicado O orvalho e os dias (Editorial Cone Sul, 1998) e Diabolô: contos (Ufal, 2011), e cineasta, tendo transformado o conto lygiano “Natal na barca” no curta-metragem “Barca” (2020).
 


Tamy Ghannam [Ingrid Benício/ Arquivo pessoal]

Resende, junto com Carlos Eduardo Souza e Tamy Ghanam, crítica literária e booktuber que dá um depoimento no episódio, coordena a Biblioteca Lygiana: uma página do Instagram que posta fotos, textos, falas da Lygia, trechos de livros e opiniões de críticos sobre a escritora.
 


Giovana Madalosso
 


 

A escritora paranaense Giovana Madalosso, que foi uma das entrevistadas desse episódio especial, tem a Fagundes Telles como uma de suas referências literárias e como mulher. O seu último romance Suíte Tóquio (Todavia, 2020), foi considerado um dos melhores livros do ano passado pelos colaboradores da Quatro Cinco Um. O livro foi resenhado por Helen Beltrame-Linné na edição 40 da revista dos livros.

Outros escritores convidados foram Cidinha da Silva, que concedeu uma entrevista para a Quatro Cinco Um sobre seu livro Oh, margem! Reinventa os rios! (Oficina Raquel, 2021); Julián Fuks, que também conversou com a revista na época do lançamento de A ocupação e assinou a resenha do romance mais recente de Marçal Aquino; Marcelino Freire, que escreveu texto sobre Amoras, incursão do músico Emicida pela literatura infantil; e Tércia Montenegro.

#DesafioLygia

O #desafiolygia, lançado ao final do episódio, faz uma pergunta relacionada a obra de Lygia aos ouvintes. Quem der a resposta mais criativa, na opinião da equipe da revista, ganha um kit com quatro livros da Lygia Fagundes Telles lançados pela Companhia das Letras. Para participar, publique a sua resposta nas redes sociais, Facebook, Twitter e Instagram, com a hashtag #desafiolygia e marque o perfil da revista (@quatrocincoum) até o dia 25 de julho. No dia 6 de agosto, o ganhador será anunciado no 451 MHz e nas redes da Quatro Cinco Um. As respostas poderão ser divulgadas no site, na newsletter e nas redes da revista. Ouça o episódio para saber mais.

O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também!

O episódio especial Os mistérios de Lygia Fagundes Telles foi feito com o apoio da Companhia das Letras.

O episódio Os mistérios de Lygia Fagundes Telles é uma produção da Rádio Novelo para a Quatro Cinco Um.
Apresentação: Paulo Werneck e Paula Carvalho
Participação especial: Adriana Esteves
Estudo sonoro e fragmentos musicais: Maria Beraldo
Coordenação geral: Vitor Hugo Brandalise
Roteiro: Paula Carvalho
Produção: Gabriela Varella
Edição: Claudia Holanda
Edição adicional e sonorização:  Paula Scarpin
Música tema: Guilherme Granado e Mario Cappi
Trilha adicional: Daniel Limaverde
Preparação de locução: Mika Lins
Finalização e mixagem: João Jabace
Ilustração: Rafa Campos Rocha
Identidade visual: Julia Monteiro
Coordenação digital: Juliana Jaeger
Gravado com apoio técnico de Gustavo Zysman, Confraria de Sons & Charutos e Tyranossom.
Na ordem de aparição no episódio, foram lidos trechos dos seguintes textos de Lygia Fagundes Telles: “Venha ver o pôr do sol”, “Antes do baile verde”, “Seminário dos ratos”, Carta de Lygia escrita a Erico Verissimo que está no acervo do Instituto Moreira Salles, “A morte”, “As meninas”, “Ciranda de pedra” e “As horas nuas”. A obra da Lygia Fagundes Telles está sendo publicada pela editora Companhia das Letras.
Para falar com a equipe: [email protected]

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