Repertório 451 MHz,

Violência policial

A pesquisadora Poliana Ferreira e o jornalista André Caramante discutem o ciclo de letalidade tão presente e atual no cotidiano brasileiro e como podemos interrompê-lo

08jul2022 | Edição #59

Está no ar o 67º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros. A violência policial é um tema que está muito presente no cotidiano brasileiro e, infelizmente, é sempre atual. Como podemos interromper esse ciclo de letalidade, que acaba atingindo mais as pessoas negras? A pesquisadora Poliana Ferreira, autora do livro Justiça e letalidade policial, da editora Jandaíra, e o jornalista André Caramante, que cobre o tema há mais de vinte anos, nos ajudam a entender melhor esse assunto tão urgente.

Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também! O podcast tem ainda apoio da Companhia das Letras. 

O tema da violência policial está sempre em pauta no Brasil. Em maio deste ano aconteceram dois episódios que mostram bem isso.

No Rio de Janeiro, no Complexo da Penha, uma operação policial deixou um saldo de 25 mortes. Em Sergipe, na cidade de Umbaúba, policiais rodoviários federais assassinaram um homem depois de deixá-lo trancado no porta-malas de uma viatura com gás lacrimogêneo, em uma espécie de câmara da morte. E esses casos bárbaros que nos chocam tanto não são casos isolados. 

Em 2021, foram registradas mais de 6 mil mortes decorrentes de intervenção policial. Os números foram divulgados no final de junho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O que chama atenção nesse dado é que ele é o menor desde 2013 — mas enquanto o índice de pessoas brancas mortas pela polícia caiu 31%, o número de pessoas negras mortas pela polícia cresceu 5,8%.  

Polícia boa não mata

Poliana Ferreira é pesquisadora, mestre e doutoranda em direito pela Fundação Getúlio Vargas. Ela se debruçou sobre dezenas de mortes causadas pela polícia para tentar entender melhor a motivação desses atos. O resultado está no livro Justiça e letalidade policial: responsabilização jurídica e imunização da polícia que mata, que saiu pela editora Jandaíra. Natália Pires de Vasconcelos falou com a autora e escreveu sobre o livro na edição 57. Na entrevista, Ferreira destaca como os corpos negros são o alvo mais comum das polícias diante do racismo estrutural que vivemos no Brasil, e observa como os números de exclusão se repetem em outros setores da sociedade brasileira.

O jornalista André Caramante é um dos profissionais mais experientes na cobertura de temas ligados à segurança pública. Ele trabalha com isso há quase 23 anos. Em 2012, ele teve que se afastar da redação do jornal onde trabalhava, a Folha de S.Paulo, por causa de ameaças depois de ter publicado uma matéria sobre violência policial. Hoje, ele trabalha na Ponte Jornalismo, um veículo independente voltado à pauta dos direitos humanos.

Como Caramante diz no podcast, “polícia boa é aquela que não mata”. Ele afirma que uma sociedade verdadeiramente democrática tem uma polícia que não é assassina. “Nossa polícia é ineficiente. É uma polícia que se preocupa com o patrimônio e não com a vida. É uma distorção de valores grande, pois o maior valor que temos é a vida.”

Mais recentemente, o jornalista organizou o livro Mães em luta: dez anos dos crimes de Maio de 2006, feito em parceria entre Mães de Maio e Ponte Jornalismo e publicado pela Nós por Nós Editora. A obra reúne quinze perfis de mulheres que partiram do luto e foram à luta por Justiça. 

Ele também é um dos autores do livro-reportagem Aqui dentro: páginas de uma memória: Carandiru (Imprensa Oficial, 2003), junto com Sophia Bisilliat, editado por Maureen Bisilliat, com fotos de João Wainer e Pedro Lobo, criado a partir de uma coletânea de depoimentos gravados, de abril de 2001 a dezembro de 2002, na Casa de Detenção Professor Flamínio Fávero. O volume apresenta narrações espontâneas, entrevistas registradas com presos, funcionários e diretores da Casa de Detenção. Falam de solidão, saúde, lealdade, família, amizade e amor, da estética da sobrevivência, da morosidade da justiça, e do peso da palavra na prisão.

Mais na Quatro Cinco Um

Em sua coluna na revista dos livros em junho de 2019, Paulo Roberto Pires escreveu sobre um ensaio de Antonio Candido, de 1973, em que o professor parte da literatura para denunciar a simbiose perversa entre Justiça e polícia.

Para a seção do Laut – Centro de Liberdade e Autoritarismo da edição 55, Luiz Guilherme Mendes de Paiva e Bruna Angotti escrevem sobre livro de Yanilda María González, professora de Harvard, que mostra como a relação entre policiais e cidadãos indica o tipo de democracia na qual se vive.

O melhor da literatura LGBTI+

Neste episódio, o poeta e artista visual Ricardo Domeneck, que lançou em maio de 2022 seu livro de poemas Mesmo o silêncio gera mal-entendidos, pela editora Garupa, recomenda a leitura de Go Tell It to the Mountain (Vá dizer à montanha), do escritor afro-americano James Baldwin. Em seu primeiro romance, o autor de O quarto de Giovanni também da homossexualidade, mas o foco é a relação do protagonista com a religião, os pais e a sua comunidade. Para Domeneck, foi uma leitura “catártica”.

Ao longo de 2021, o quadro contou com o apoio do C6 Bank e reuniu catorze livros e dicas literárias LGBTI+ de colaboradores da Quatro Cinco Um. Veja a lista completa

O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação 451.
Apresentação: Paulo Werneck e Paula Carvalho
Coordenação Geral: Évelin Argenta e Paula Scarpin
Produção: Gabriela Varella
Edição: Cláudia Holanda
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger e FêCris Vasconcellos
Gravado com apoio técnico da Confraria de Sons & Charutos (SP)
Para falar com a equipe: [email protected]

Matéria publicada na edição impressa #59 em junho de 2022.