A Feira do Livro, Literatura brasileira,

Fragilidade visível

A escritora paulista Patrícia Melo fala da miséria humana e da violência que domina seus romances

10jun2022 | Edição #58

Nesta quinta (9), no Palco da Praça, a escritora paulista Patrícia Melo conversou com Paulo Werneck, diretor da Quatro Cinco Um, sobre seus últimos romances: Mulheres empilhadas, de 2020, e Menos que um, lançado agora, ambos pela editora Leya.
O primeiro trata do feminicídio a partir da trajetória de uma advogada paulistana que, após sofrer uma violência no seu último relacionamento, viaja para o Acre, enquanto rememora o passado da sua família, também dominado pela violência.

Quando Melo escreveu o livro, as editoras da Leya sugeriram que ela se voltasse a personagens mulheres. “Quem comete violência é muito mais o homem. A mulher é muito mais vítima. Queria fazer um grande painel de como o Brasil é um país violento com as mulheres. O Brasil está na quinta posição do ranking mundial de países que mais cometem feminicídios”, diz a autora.

Menos que um volta-se à miséria humana a partir da história de pessoas que vivem nas ruas de São Paulo. “Esse livro é uma espécie de panorama ficcional da miséria brasileira. Há dois anos, quando vim para o Brasil lançar Mulheres empilhadas, fiquei surpresa com a quantidade de pessoas morando na rua. Pensei que era hora de escrever sobre esse assunto.”

Por meio de personagens com dependência química, prostitutas e pessoas trans, Melo mostra a saga dessa população bastante heterogênea: como fazem para comer, tomar banho, tomar água. “Muito do que vi nas ruas coloquei no livro, mas de maneira ficcional. É uma população heterogênea, mas que tem em comum a miséria e a fragilidade dos vínculos familiares”, conta.

Na pesquisa para o livro, ela investigou os mitos em torno dos moradores de rua. “Um deles é que é uma população invisível. Mas ela só é invisível no que diz respeito a seus próprios direitos porque, para levar porrada da polícia, na hora de ser humilhada, ela é muito visível”, conclui.

Quem escreveu esse texto

Paula Carvalho

Jornalista e historiadora, é autora e organizadora de ireito à vagabundagem: as viagens de Isabelle Eberhardt (Fósforo).

Matéria publicada na edição impressa #58 em fevereiro de 2022.