A Feira do Livro, Divulgação Científica,

Reaprender a sonhar

Sidarta Ribeiro aconselha o contato com os sonhos para criar um futuro possível

11jun2022

O neurocientista Sidarta Ribeiro conversa hoje sobre os sonhos com a antropóloga Hanna Limulja, às 17h, no Auditório Armando Nogueira.

Seu livro Sonho manifesto (Companhia das Letras) nos faz querer sonhar. Ainda dá tempo de aprender?
Sim! O momento é de crise aguda e por isso mesmo precisamos sonhar com liberdade, coragem, inteligência e sobretudo amor. Vivemos o incrível paradoxo causado pela explosão cognitiva dos últimos séculos. Se os riscos de fracasso da nossa espécie nunca foram tão grandes, o mesmo é verdade sobre as nossas chances de sucesso. Se estamos perto da aniquilação da experiência humana na Terra, também estamos perto de desatar as amarras comportamentais atávicas que nos mantêm reféns da brutalidade. A expansão planetária da consciência está em curso. Se não aprendermos a tempo, será nosso fim. Mas, se dermos conta do recado, daqui a mil anos nossos descendentes vão honrar e celebrar nosso legado. A hora é esta.

Por acaso, a neurociência do futuro é ancestral?
Não apenas a neurociência, mas toda a ciência e além. Nas palavras do Ailton Krenak, é o futuro mesmo que é ancestral. A ciência vem demonstrando que o engajamento com os povos indígenas preserva o conhecimento local e a biodiversidade. A crise ambiental-social exige das gerações que estão vivas a realização de uma grande síntese de saberes. Para nos adaptarmos às condições que a própria humanidade criou, precisamos resgatar práticas milenares de sono, sonho, alimentação, atividade física, alteração de consciência, relação com a natureza e, em especial, com as outras pessoas. Ao mesmo tempo, precisamos abandonar os comportamentos também ancestrais de competição, predação e opressão. Se soubermos nos alimentar daquilo que de melhor se produziu em todas as culturas, teremos um bom futuro.

A retomada de encontros públicos (como uma feira de livros) pode se tornar um sonho bom, durante esse pesadelo da pandemia?
Estamos todes precisando de encontro, conversa, olho no olho, abraço e partilha do viver. A pandemia não acabou e precisamos seguir atentos com os cuidados necessários, mas é preciso celebrar a retomada das interações coletivas que nos humanizam. Nossos ancestrais nunca foram solitários, somos seres profundamente sociais. Que desse reencontro de afetos e ideias se construa o sonho de transformação planetária que faça jus não apenas aos nossos ancestrais, mas aos nossos descendentes.

Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, , editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34)