Literatura brasileira,

Espírito do tempo

Itamar Vieira Junior dá centralidade a personagens à margem do Estado, mas seu novo romance ‘Salvar o fogo’ perde ao recorrer a expedientes gastos da literatura

21abr2023 • 17jan2024 | Edição #69

Um mês antes de Salvar o fogo chegar às livrarias, mais de 35 mil cópias já haviam sido compradas, em sistema de pré-venda, por uma imensidade de fãs do fenômeno Torto arado, de 2018. No Instagram, o perfil @tortoaraders mostrava que os mais ansiosos já haviam até confeccionado bonequinhas de crochê e canecas estampadas com as figuras da capa do novo romance de Itamar Vieira Junior. Diante disso, qualquer coisa que uma resenha possa dizer sobre a obra será, na melhor das hipóteses, irrelevante; na pior, a resenhista se meterá numa enrascada.

Salvar o fogo chega acompanhado por esperanças e receios suscitados pelo feito recente do autor, e toda leitura partirá da dúvida sobre se ele será capaz de reproduzir o sucesso ou se terá caído na tentação de repetir uma fórmula. O romance traz, de fato, muitos elementos previsíveis — em parte inevitáveis, dado o parentesco temático com o romance anterior. Algumas retomadas são, porém, bem-vindas. Vieira Junior mais uma vez fala de um Brasil de cuja existência o Brasil que se entende moderno pouco suspeita ou quer se esquecer. Traz também personagens femininas fortes (embora o tratamento fatalista do desejo sexual feminino incomode), que ele se empenhou em construir, nem sempre com sucesso, de forma a nos fazer vivenciar suas desventuras de forma íntima, e não como espectadores de um documentário.


Salvar o fogo, novo romance de Itamar Vieira Junior

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Quem escreveu esse texto

Lígia G. Diniz

É autora da tese Por uma impossível fenomenologia dos afetos, premiada pela Capes em 2017.

Matéria publicada na edição impressa #69 em abril de 2023.