Repertório 451 MHz,

E agora, Drummond?

O biógrafo Humberto Werneck fala no podcast 451 MHz sobre a poesia e a molecagem de Carlos Drummond de Andrade

16out2020

Está no ar o vigésimo oitavo episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros! Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. 

O apresentador Paulo Werneck conversa com o jornalista Humberto Werneck sobre a vida, a obra e os amores de Carlos Drummond de Andrade. Editor-sênior da Quatro Cinco Um, Humberto Werneck prepara uma nova biografia do poeta, a ser lançada pela Companhia das Letras. O episódio tem participação especial dos poetas mineiros Ricardo Aleixo e Ana Martins Marques lendo poemas de Drummond.

Ouça aqui e agora: 

A página Repertório 451 MHz reúne os links para o último episódio e para os livros citados, listas, além de imagens, sugestões de leitura e outras indicações para se aprofundar nos temas discutidos. 

O podcast 451 MHz pode ser ouvido gratuitamente no site da revista e também nos principais tocadores de podcasts. Ele é publicado na primeira e na terceira sexta-feira de cada mês. 

A apresentação é do editor Paulo Werneck e a direção é da jornalista Paula Scarpin, da Rádio Novelo, start-up de podcasts que produz o 451 MHz para a Associação Quatro Cinco Um. Para contribuir com a realização do podcast, convidamos você a fazer uma assinatura da Quatro Cinco Um, a revista dos livros.

Bloco 1: Insubordinação mental (3:57)

“Aquele homem falava as contas que eu não dava conta de falar”, diz Humberto Werneck sobre seu biografado, Carlos Drummond de Andrade. Jornalista e editor-sênior da Quatro Cinco Um, ele é autor de O desatino da rapaziada (Companhia das Letras), em que retraça a trajetória de escritores mineiros como Rubem Braga, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e, é claro, Drummond.

 

 

No primeiro bloco, ele fala sobre como o poeta escrevia sobre tudo — “As crônicas dele são a exploração máxima de um assuntinho” — e se considerava mais jornalista do que escritor. “Ele escreveu durante quinze anos no Correio da Manhã e quinze anos no Jornal do Brasil. Foram trinta anos em que ele escrevia num ritmo de três crônicas por semana. É muitíssima coisa.” 

Humberto Werneck também conta sobre os bastidores da produção de uma matéria de capa sobre Drummond na revista Veja em 1977 e fala da mudança da relação do poeta com a imprensa ao longo dos anos. O jornalista aborda ainda a estreia literária de Drummond em abril de 1918 no jornal da escola — instituição da qual seria expulso por “insubordinação mental” em 1919.

A conversa conta ainda com curiosidades como o fato de que Carlos Drummond de Andrade gostava de passar trotes telefônicos e o incêndio que ele e Pedro Nava teriam causado para ver mulheres saírem de casa vestindo camisolas.

Bloco 2: Inimigo do Partido Comunista (29:50)

No segundo bloco, Humberto Werneck fala sobre como Drummond “engarranchou” em Mário de Andrade — algo explicitado no livro de correspondências Carlos & Mário (Editora Bem-Te-Vi), com organização de Lélia Coelho Frota — e dos efeitos do suicídio de Pedro Nava no poeta.

O biógrafo aborda também o conservadorismo do poeta — rememorando uma declaração polêmica sobre homossexualidade —, sua posição política — e como chegou a ser visto como inimigo do Partido Comunista — e o medo de ser confundido com um pornógrafo, tendo cuidado para que seu livro de poemas eróticos O amor natural fosse lançado apenas após a sua morte.

“O quarto em desordem”, de Carlos Drummond de Andrade, na voz do poeta Ricardo Aleixo (37:22)

Na curva perigosa dos cinqüenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor
que não sabe como é feita: amor
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar
a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo
verdade tão final, sede tão vária
a esse cavalo solto pela cama
a passear o peito de quem ama.

“Elegia 1938”, de Carlos Drummond de Andrade, na voz da poeta Ana Martins Marques (41:20)

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, 

onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo.


Praticas laboriosamente os gestos universais, 

sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção. 
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze 
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra 
e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer. 
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina 
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas 
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. 
A literatura estragou tuas melhores horas de amor. 
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva. 
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição 
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

“A bunda, que engraçada”, de Carlos Drummond de Andrade, na voz do poeta Ricardo Aleixo (47:16)

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
rebunda.

Parênteses
Todavia (00:28)

Este episódio tem o apoio da Todavia.

Você já escutou o Quarta Capa, podcast da Todavia? No ar toda última quarta-feira do mês, o Quarta Capa traz conversas que têm os nossos livros como ponto de partida para discutir questões atuais, sempre com participações preciosas de autores, livreiros e leitores. No episódio mais recente, o papo gira em torno de Sobre os ossos dos mortos, de Olga Tokarczuk. Falamos sobre a subjetividade animal e a relação humana com o mundo natural, assunto tão necessário quanto urgente. 

E, falando na Olga Tokarczuk, em outubro a Todavia lança mais um livro da Nobel polonesa: A alma perdida, uma obra infantil para todas as idades. Outubro traz também O Gueto Interior, de Santiago H. Amigorena, e o aguardado A república das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro, de Bruno Paes Manso, o mesmo autor de A guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil. Como diz Luiz Eduardo Soares na quarta-capa do livro, "a história da Nova República nunca mais vai ser contada da mesma forma".

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Companhia das Letras (26:10)

A partir de um vasto acervo de fontes e imagens da época, Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling recriam o cotidiano da vida e da morte durante o reinado de terror da "gripe bailarina", uma das maiores pandemias da história. A gripe espanhola, como ficou conhecida a explosão pandêmica de uma mutação particularmente letal do vírus H1N1, matou dezenas de milhares de pessoas no país e cerca de 50 milhões no mundo inteiro. Altamente contagiosa, a moléstia atingiu todas as regiões brasileiras, paralisou a economia e desnudou a precariedade dos serviços de saúde. Disputas políticas e atitudes negacionistas de médicos e governantes potencializaram o massacre, que vitimou sobretudo os pobres. No livro A bailarina da morte, as autoras fazem um contundente retrato do Brasil durante a pandemia de gripe espanhola, que há um século assombrou a humanidade, e revelam trágicas semelhanças com a Covid-19.
 
Veja mais detalhes em www.companhiadasletras.com.br
 
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37 Graus (27:39)

Oi, aqui é Bia Guimarães do podcast 37 Graus. Eu não sei você, mas a gente tá achando que o tempo anda mais debochado do que nunca.
Tempo: você acha? 
Nossa cabeça não acompanha o calendário. 
Tempo: Trago e levo. O relógio não dá mais conta de contar a nossa vida. 
Tempo: Organizo e embaralho.
E o passado e o presente de repente parecem tão movediços quanto o futuro.
Tempo: [risos].
Como que a humanidade pode ter chegado até aqui sem entender direito esse cara? 
Tempo: Muito boa pergunta.
E será que a gente tá chegando perto, ou a cada dia a gente tá mais longe de desvendar esse mistério? É isso que a gente vai descobrir na nova temporada do 37 Graus. A cada quinze dias, sempre na terça-feira, uma história diferente para cutucar essas perguntas. A história de uma cidade que fez o tempo virar. De um homem que tem seu nome estampado por todo canto, mas ninguém parece se lembrar dele. Da corrida sem fim para ver quem chega primeiro no passado. De um cofre à prova de tudo que guarda um pedaço do futuro. E mais. O primeiro episódio já está no ar. É só buscar o 37 Graus no seu aplicativo para podcast. 
Tempo: Adoro!

451 MHz — Ouvintes entusiastas (28:40)

Se você gosta de ouvir o nosso podcast, a gente criou para você um plano especial de assinatura, o plano Ouvinte entusiasta. Isso mesmo. Igual ao Assinante Entusiasta da nossa edição impressa, você pode passar a nos ajudar a realizar o 451 MHz com R$ 20 por mês. Basta fazer uma assinatura — o plano Ouvinte entusiasta está aqui no nosso site — e esses R$ 20 são cobrados todo mês no seu cartão de crédito. Você pode entrar agora e sair quando você quiser. Com esse valor, você nos ajuda e produzir o programa. Em troca, a gente dá acesso ao nosso site e a todos os conteúdos publicados pela Quatro Cinco Um desde a nossa primeira edição. Você também ganha o seu nome no expediente da revista e também aqui no podcast — isso mesmo, a gente vai ler aqui no ar o nome das pessoas que estão nos ajudando a manter o programa em pé. Vai lá e faz a sua assinatura do Ouvinte entusiasta!

Marcia Adorno
Amanda Azevedo
Leila Barreto
Patrícia Carneiro de Brito
José Osmar Azevedo Carneiro
Eduardo Martinelli Carvalho
Lucas Carvalho
Murilo Carvalho
Roberto Carvalho
Cecilia Castellini
Camila Chaves
Gabriel Navarro Colasso
Walter Craveiro
Carlos Eduardo F da Cruz
Ana Carolina Lessa Dantas
Luiz Eduardo Pinto Basto Tourinho Dantas 
Marisa Dodorico
Gustavo Dutra
Kelly de Souza Ferreira
Ronaldo Ribeiro Ferreira
Waldomiro José da Silva Filho
Paula Fontana Fonseca
Luiza Franco
Maria Filomena Gregori
Caroline Greve
Julia Guarilha
Mariah Guedes
Sandrine Ghys
Paula Juchem
Sandro Vimer Valentini Junior
Fábio Kalvan
Claudio Lima
Leila Lima
Manuela Magalhães
Maria Cristina Sawaia Martini
Lenivia Mendes
Loide Migliorini
Victor Muniz
Gabriela Néspoli
Luiz Antônio Thimotti Nicoliello 
Ana Novais
Ligia Helena Sales Nunes
Valeria Wey Barbosa de Oliveira
Bruno Emanuel Carvalho Oliveira
Sonia Maria Barros de Oliveira
Ana Pessoa Pacheco
Eliane Hatherly Paz
Thomaz Pereira
Luísa Plastino
Diana Radomysler
Heloisa Vieira da Rocha
Leni Manzatti Rodrigues
Radmila Salviano
Fabio Cunha dos Santos
Juliano Machado dos Santos
Marcella Costa Motta dos Santos
Silvana Scarinci
Luiz Eugênio Sena
Gustavo Sénéchal
Gabriel Barbosa Silva
Guilherme Sorgine
João Pedro de Souza
Tatiana Vargas
André Viana
Leonardo Vilella
Flávia Bezerra Tone Xavier
Luiza Martins Werneck
Thomaz Werneck
André Wolf

O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo para a Quatro Cinco Um
Apresentação: Paulo Werneck
Coordenação Geral: Paula Scarpin e Vitor Hugo Brandalise
Edição: Cláudia Holanda
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger
Gravado com apoio técnico da Som de Cena (SP).
Para falar com a equipe: [email protected]