Xodó literário,

Os xodós literários de 2023

Colaboradores da Quatro Cinco Um compartilharam a leitura deste ano que mais os marcou

20dez2023 | Edição #76

Em clima de balanço do ano, pedimos aos colaboradores da revista que compartilhassem seus xodós literários — uma bela estreia, o retorno de um grande autor, uma lacuna preenchida, uma surpresa, um reencontro, um livro em que vale a pena prestar atenção — deste 2023. A seguir, leituras que deixaram suas marcas no ano que passou.

O cavalo cor-de-rosa. Dorothy B. Hughes.
Trad. Giu Alonso • HarperCollins • 288 pp • R$ 64,90

“A prosa contundente, poética, violenta e hipnótica de Hughes foi o meu xodó literário de 2023. Uma das grandes autoras da literatura noir do século 20, cujas adaptações para o cinema viraram também clássicos do noir, Hughes é uma das vozes femininas mais importantes da literatura policial. O romance O cavalo cor-de-rosa é uma ótima porta de entrada para a sua prosa. Fiquei feliz de, em 2023, finalmente conhecer seu universo de luz e sombras, no qual a humanidade das suas personagens é sempre ressaltada, não importando o quão terríveis são seus comportamentos.”

Christiano Aguiar

50 poemas macabros. Vinicius de Moraes.
Org. Daniel Gil • Ils. Alex Cerveny • Companhia das Letras • 168 pp • R$ 84,90

50 poemas macabros foi o meu xodó literário por ser uma coletânea que evidencia uma faceta pouco notada do grande poeta.”

Sérgio Alcides

Uma outra ciência é possível: Manifesto por uma desaceleração das ciências. Isabelle Stengers.
Trad. Fernando Silva e Silva • Bazar do Tempo • 216 pp • R$ 74

“O livro Uma outra ciência é possível, de Isabelle Stengers, é um chamado à ação da comunidade em geral para um engajamento acerca da posição que o discurso científico ocupa em nosso coletivo e os efeitos que é capaz de produzir. Em um momento de entronamento da ciência como algo genérico, justificado pelos discursos obscurantistas que circularam durante a pandemia, Stengers nos convida a olhar para as práticas científicas em sua singularidade, fazendo com que seu papel político seja destacado e questionando sua aparente objetividade. Seu subtítulo, ‘um manifesto para a desaceleração das ciências’ nos relembra que é preciso, além de saber julgar politicamente os efeitos das práticas científicas, também dar um passo atrás e questionar quem é chamado para a mesa de debate dos especialistas, sem passar por cima de todos os envolvidos.” 

André Araujo

Morda meu coração na esquina: poesia reunida. Roberto Piva.
Org. Alcir Pécora • Companhia das Letras • 504 pp •R$ 99,90

“Roberto Piva é um poeta-síntese em uma encruzilhada político-estética onde se encontram tanto os estilhaços da Beat Generation,  do surrealismo, do modernismo de Mário de Andrade e Jorge de Lima, quanto dos cantos de Maria Sabina e da dimensão erótico estética do Satyricon de Petrônio. Imagino o impacto desse universo nos e nas adolescentes dos centros afastados de São Paulo.” 

Marcelo Ariel

Trilogia de Copenhagen: Infância, Juventude e Dependência. Tove Ditlevsen.
Trad. Heloisa Jahn e Kristin Lie Garrubo • Companhia das Letras • 392 pp • R$ 79,90

“O relato surpreendente da autora dinamarquesa morta em 1976, finalmente lançado no Brasil, parece ter acabado de ser escrito.”

Amauri Arrais

A Festa Literária das Periferias — Flup 

“Na minha opinião é o festival literário e cultural mais brasileiro e regador de novidades há alguns anos, mobilizando constantemente a produção feita na diáspora afro-brasileira e nas periferias do Brasil.”

Jefferson Barbosa

A mais recôndita memória dos homens. Mohamed Mbougar Sarr.
Trad. Diogo Cardoso • Fósforo • 400 pp • R$ 104,90

A mais recôndita memória dos homens é uma obra prima. Um exemplo raro de inteligência e requinte literários. Uma extraordinária homenagem a um dos romances mais importantes das literaturas africanas contemporâneas (Le Devoir de violence, de Yambo Ouologuem), e portanto, uma magistral prova daquilo que a melhor literatura, ainda hoje, é capaz de dizer e de fazer.” 

Elena Brugioni

Kwaidan: histórias de fantasmas e outros contos estranhos do Japão antigo. Lafcadio Hearn.
Trad. e pref. Sofia Nestrovski • Ils. Pedro Inoue • Fósforo • 240 pp • R$ 72,90

“É o meu xodó porque é um livro estranho, de um autor estranho, traduzido e prefaciado também por uma estranha. Todas as estranhezas, nesse caso, contêm o melhor sentido do termo, aquele que atrai pela diferença e, ao invés de repelir logo em seguida, cativa pela transformação que proporciona e permite. A partir da leitura de Kwaidan, histórias de um país e de um tempo distantes jamais serão as mesmas, e também serão outros os nossos fantasmas.”

Luis Campagnoli

The Black Girl Songbook, apresentação de Danyel Smith

“Esse livro é para gente, como eu, que lê crítica de música pop procurando afeto desesperadamente.”

Schneider Carpeggiani

Noite e dia desconhecidos. Bae Su-ah.
Trad. Hyo Jeong Sung • DBA • 160 pp • R$ 59,90

“Da Clarice Lispector sul-coreana, Noite e dia desconhecidos é o livro mais estranho que li este ano e sobre o qual ainda não paro de pensar.”

Paula Carvalho

O deserto e sua semente. Jorge Baron Biza.
Trad. Sérgio Molina • Companhia das Letras • 232 pp • R$ 74,90

“‘Xodó’ não seria bem a palavra, pois é um livro violento, que desnuda o pior e o melhor do ser humano, nossa brutalidade e nossa capacidade de reconstrução. Esse romance de estreia foi também de despedida, pois o autor se matou logo depois, incapaz de tolerar a dureza da realidade que desnudou para nós. O autor virou um dos meus favoritos com apenas esse livro, feito raro.”

Alex Castro

Vocês brilham no escuro. Liliana Colanzi.
Trad. Bruno Cobalchini Mattos • Mundaréu • 112 pp • R$ 56

“Tive a sorte de traduzir este livro, que foi uma gratíssima surpresa. Extremamente inventivo e inovador, Colanzi cria um mundo onírico, ao mesmo tempo trágico e maravilhoso. Destaque para o conto-título, criado a partir da tragédia do césio-137 em Goiânia.”

Bruno Cobalchini Mattos


A poeta e escritora norte-americana Audre Lorde  [Reprodução]

Audre Lorde

Paula Costa Nunes de Carvalho

Retorno a Reims. Didier Eribon.
Trad. Cecilia Schuback • Editora Âyiné • 296 pp • R$ 89,90

“Apenas esse ano fui ler o grande livro de Didier Eribon. Para mim foi impactante lê-lo porque ele conseguiu colocar em palavras o que eu sinto há muito tempo. E é muito interessante porque Eribon faz uma análise sociológica bastante fluida e livre da própria condição de classe e de sua ascensão social e intelectual.”

Daniela Costanzo

Um pé na cozinha: um olhar sócio-histórico para o trabalho de cozinheiras negras no Brasil. Taís de Sant'anna Machado.
Fósforo • 400 pp • R$ 99,90

“Um livro fundamental para entender a importância das mãos e mentes femininas negras na construção do que chamamos de ‘cozinha brasileira’.”

Flávia Couto

Louças de família. Eliane Marques.
Autêntica Contemporânea • 280 pp • R$ 64,90

“A poeta Eliane Marques fez sua estreia em prosa de maneira incisiva, por meio de linguagem dura, confrontadora e cortante (dilacerante, às vezes). Um livro que escapa ileso de qualquer discurso fácil ou previsível em torno da temática racial e que também não cede à beleza que pode emanar de toda vida, se focada por ângulos favoráveis. O romance escrutina de maneira constante a complexidade das existências negras em sociedades racistas como a brasileira, a do Sul do Brasil, em especial. É daqueles livros que nos deixam em ebulição e, depois da decantação, não somos mais as mesmas.”

Cidinha da Silva

Paterson. William Carlos Williams.
Trad. Ricardo Rizzo • Círculo de Poemas • 372 pp • R$ 89,90

Paterson é um monumento tecido com as linhas de uma vida toda de paixão pela poesia.”

Tarso de Melo

Uma volta pela lagoa. Juliana Krapp.
Círculo de Poemas • 104 pp • R$ 59,90

“Eu acompanho o trabalho de Juliana Krapp desde que li um primeiro poema na revista Inimigo Rumor. Li seus poemas em revistas e antologias. Eu aguardava essa estreia em livro há anos.”

Ricardo Domeneck

El Nudo: Por qué el Conurbano Bonaerense Modela la Política Argentina. Carlos Pagni.
Planeta Argentina • 776 pp • $13,99

“O melhor da história e do jornalismo reunidos no esclarecimento de um universo tão fascinante como atroz. Indispensável para entender a Argentina. Merece uma edição no Brasil.”

Sergio Fausto

Ausente por tempo indeterminado. Júlio Ramón Ribeyro.
Posf. Alejandro Zambra • Trad. Paulina Wacht e Ari Roitman • Carambaia • 192 pp • R$ 99,90

“Contos formalmente perfeitos, com enredos fascinantes.”

Márcio Ferrari

  

O céu para os bastardos. Lilia Guerra.
Todavia • 176 pp • R$ 54,90

A segunda mãe. Karin Hueck.
Todavia • 176 pp • R$ 69,90

“Desculpem, mas não tive maturidade para escolher um só xodó, pois estou apaixonada por ambas. A estreia de Karin Hueck é um escândalo. De maneira muitíssimo simplista, A segunda mãe é uma distopia em que mulheres fazem uma revolução e transformam homens em reprodutores. Mas o romance é muito mais que isso: Karin é sarcástica, numa narrativa em primeira pessoa, embaralha os estereótipos de gênero, desmontando certezas, confirmando suposições do que é ser e pensar como um homem e/ou uma mulher, num texto bem escrito, viciante e com uma sacada final que nos faz querer reler o livro inteiro, sob nova perspectiva.

O céu para os bastardos é um dos caminhos para enveredar pelo universo de Lilia Guerra, autora que constrói um retrato da periferia paulistana a partir do ponto de vista de quem vive lá. Personagens como Sá Narinha, a protagonista, ‘nascem’ em livros anteriores da autora, que vai desdobrando essas vidas inspiradas em sua própria trajetória em crônicas, contos e romances. É uma delícia descobrir as meninas de O céu para os bastardos perambulando por Perifobia, Rua do Larguinho, Crônicas para colorir a cidade. Foi uma deliciosa surpresa conhecer o mundo de Lilia.”

Adriana Ferreira Silva

Latim em pó: um passeio pela formação do nosso português. Caetano W. Galindo.
Companhia das Letras • 232 pp • R$ 59,90

Latim em pó é meu xodó pela pesquisa incrível apresentada sem cacoete acadêmico.”

Silvana Goulart

Os Paralamas do Sucesso: Selvagem?. Mario Luis Grangeia.
Cobogó • 168 pp • R$ 68

“Um grande álbum do Paralamas, trilha da redemocratização em um país extremamente desigual, pelo olhar do jornalista-sociólogo autor de livros sobre Cazuza e Renato Russo.”

Marcos Hecksher

A marcação. Frída Ísberg.
Trad. Luciano Dutra • Fósforo • 280 pp • R$ 74,90

“O primeiro romance de Frída Ísberg revela uma autora não só atenta ao espírito do seu tempo, mas disposta a dissecá-lo em verdades incômodas sobre o rumo que estamos tomando enquanto sociedade.”

Guilherme Magalhães

     
   
Coleção Círculo de Poemas, colaboração entre a Fósforo e a Luna Parque

“Livros e plaquetes preciosos com grandes momentos de nomes da poesia contemporânea brasileira, como Ana Martins Marques, e outros de fora do país.”

Carlos Marcelo

Paixão simples. Annie Ernaux.
Trad. Marília Garcia • Fósforo • 64 pp • R$ 54,90

“Cada novo livro de Annie Ernaux que chega ao Brasil é uma oportunidade de conhecer uma obra bem maior do que as páginas que temos em mãos durante a leitura. Ernaux escreve simples e seu romance autobiográfico que leva este adjetivo evidencia que narrar o elementar, o modesto e o trivial está entre as grandes complexidades da literatura.”

Gabriela Mayer

 

As pequenas virtudes. Natalia Ginzburg.
Trad. Maurício Santana Dias • Companhia das Letras • 128 pp • R$ 57,90

“Ensaios curtos e sensíveis escritos entre 1944 e 1962 pela escritora italiana nascida em Palermo. Ginzburg reflete sobre a vida, os afetos, o tempo. Em um texto sobre o exílio e a morte do marido pelo regime fascista italiano, ela fala sobre o descompasso em reconhecermos ‘as alegrias maiores da vida’ enquanto são vividas — ‘nossa sorte transcorre nessa alternância de esperanças e nostalgias’. Atuais, os textos trazem esse e outros bons lembretes.”

Beatriz Muylaert

Poesia reunida. Donizete Galvão.
Círculo de Poemas • 528 pp • R$ 99,90

“Reunião da obra poética de um autor sensível e rigoroso, falecido há uma década.”

Fernando Paixão

As pequenas chances. Natalia Timerman.
Todavia • 208 pp • R$ 69,90

“Por conseguir transmitir um tipo de afeto único que é possível existir no momento de despedida e morte.”

Renato Parada

Minha vó ia ao cinema. Paula Marconi de Lima.
Ils. Lumina Pirilampus • Companhia das Letrinhas • 48 pp • R$ 59,90

Minha vó ia ao cinema traz para a literatura ilustrada um tema que é pouco presente nesse segmento: um retrato de infância interiorana, longe das capitais. E cumpre essa tarefa a partir de uma perspectiva também pouco usual e também por isso bastante necessária, ao representar o trabalho infantil pelo ponto de vista de uma narradora que observa em sua vó muito mais que um papel social, mas uma força de resistência. Uma narrativa intergeracional, que visita o passado para se perceber contemporânea, que emociona por contar um Brasil pouco visto na produção cultural para crianças. Como os interiores do Brasil aparecem na literatura ilustrada? Quais retratos de infâncias interioranas povoam os livros que as crianças leem? Quando falamos sobre esses territórios, falamos também da força feminina que emana deles, em realidades permeadas pela responsabilização do cuidado pelas crianças, que recai sobre as mulheres. Como isso tudo é representado nos livros infantis? Essa obra abarca essas questões todas, sem necessariamente respondê-las, mas certamente lançando luz sobre elas.”

Renata Penzani

Bioy & Borges: Obra completa em colaboração. Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges. Trad. Maria Paula Gurgel Ribeiro • Companhia das Letras • 536 pp • R$ 149,90

“Fazia falta, no Brasil, um volume único com a incrível colaboração entre Bioy e Borges. E veio de fato completo, inclusive com o primeiro e divertidíssimo texto escrito a quatro mãos: uma propaganda de coalhada.”

Julio Pimentel Pinto

Os perigos de fumar na cama. Mariana Enriquez.
Trad. Elisa Menezes • Intrínseca • 144 pp • R$ 49,90

“Esse foi meu xodó porque o terror fantástico tem sido menos tenebroso que os tempos atuais. E porque ler contos é o que o cérebro aguenta (mas o romance não acabou!). E porque a Mariana Enriquez prescinde de explicações.”

Eloah Pina

Ninguém quis ver. Bruna Mitrano.
Companhia das Letras • 96 pp • R$ 59,90

“Eu esperei ansiosamente pelo segundo livro da Bruna Mitrano, e a publicação de Ninguém quis ver me provou que eu não esperei em vão. Com muita facilidade, Bruna se mantém como uma das principais poetas da atualidade, escrevendo sobre temas pessoais que são coletivos com uma voz própria. Li poema a poema e a sensação era de ter acessado algo novo. Recomendo demais!”

Lubi Prates

A bala que errou o alvo. Richard Osman.
Trad. Jaime Biaggio • Intrínseca • 320 pp • R$ 69,90

“O livro é de novembro de 2022 e acho que por isso mesmo não deu tempo de incluí-lo na votação do ano passado. É o terceiro volume da série Clube do Crime das Quintas-Feiras, que é toda meu xodó! Osman faz uma ficção policial com muito humor e, de quebra, insere boas reflexões sobre viver, envelhecer, relacionamentos, doenças, propósito… Pode parecer um tanto cafona tudo isso e ainda bem que é Osman escrevendo sobre e não eu. Ele o faz muito melhor, com leveza, sem leviandade ou superficialidades.”

Marilia Ramos

     
  
Coleção Círculo de Poemas, colaboração entre a Fósforo e a Luna Parque

“Pela intensidade e novidade na publicação de poesia. A cada mês uma (ou duas) surpresas.”

Joca Reiners Terron

Gênero queer. Maia Kobabe.
Trad. Clara Rellstab • Tinta-da-China Brasil • 240 pp • R$ 99

“Diante de tanta transfobia (de pessoas dos mais variados espectros políticos), a publicação de uma narrativa tão sensível sobre a não binariedade em uma grande editora é um feito e tanto deste ano. Que essa presença inspire mais publicações de literatura trans, que ainda tem tão pouco espaço no mercado editorial.”

be rgb

Língua solta. Flora Lahuerta.
Pref. Eliane Robert Moraes • Urutau • 100 pp • R$ 45

“Lançado no Brasil e em Portugal, onde a autora brasileira reside, o livro de estreia de Flora Lahuerta brinca à vontade com a língua portuguesa, revelando seu potencial erótico enquanto explora as diferenças do léxico sexual praticado dos dois lados do Atlântico.”

Eliane Robert Moraes

O ninho. Bethania Pires Amaro.
Record • 192 pp • R$ 54,90

“Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura na categoria Contos, é um livro de impressionante maturidade, uma das melhores obras de estreia que já encontrei. Mal entrou em cena, Bethania já é uma das grandes contistas do país.”

Sérgio Rodrigues

As homicidas. Alia Trabucco Zerán.
Trad. Silvia Massimini Felix • Fósforo • 232 pp • R$ 74,90

“O livro traz a história real de quatro mulheres assassinas. Como diz a autora, é mais fácil imaginar uma mulher que morre do que uma mulher que mata, então perceber as nuances da vida de mulheres que mataram, em sua maioria, os homens com quem viviam é também perceber que existe uma vida por trás de um crime, entender como e por que um crime acontece e pensar sobre como a justiça e a sociedade tratam mulheres assassinas.”

Maíra Rosin

Poco hombre: escritos de uma bicha terceiro-mundista. Pedro Lemebel.
Org. Ignacio Echevarría • Trad. Mariana Sanchez • Zahar • 400 pp • R$ 84,90

“Esta antologia marca a estreia no Brasil de um dos maiores cronistas e uma das figuras mais transgressoras da América Latina, além de ter sido um grande desafio pessoal de tradução.”

Mariana Sanchez

      
  

Coleção Antonio Candido. Todavia. 

“Antonio Candido é um dos maiores críticos de literatura no Brasil e suas contribuições para outros campos da cultura também são preciosas. Seu texto sobre o direito à literatura, por exemplo, merece ganhar mais alcance e iluminar caminhos.”

Fabiane Secches

A mais recôndita memória dos homens. Mohamed Mbougar Sarr.
Trad. Diogo Cardoso • Fósforo • 400 pp • R$ 104,90

A mais recôndita memória dos homens é instigante desde a primeira página, com um enredo criativo e, ao mesmo tempo, próximo. Cheio de referências à literatura de outros autores africanos, traz memória, origem, e uma perfeita e rara mescla entre ficção e realidade. Meu exemplar está cheio de anotações e marcações.”

Jaqueline Silva

Perdeu a vontade de espiar cotidianos. Evandro Affonso Ferreira.
Nós • 88 pp • R$ 60

“Dono de um dos textos mais originais da literatura brasileira contemporânea, a obra de Evandro Ferreira mostra como é possível tecer o presente imaginado. Para tanto, o autor cria atalhos com a linguagem.”

Fabio Silvestre Cardoso

Perseguição e cerco a Juvêncio Gutierrez. Tabajara Ruas.
Record • 144 pp • R$ 47,90

“Um romance de formação de um garoto gaúcho que vive na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina e próximo do Uruguai. Um clássico latino-americano sobre deixar a infância para trás. A perda da inocência é representada pela apreensão que envolve a perseguição do tio, um contrabandista. Um livro que merece chegar a uma nova geração de leitores, mais de trinta anos depois de ter sido publicado. Tabajara Ruas é um dos grandes nomes da nossa literatura, justamente escolhido patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, que chegou à marca de 69 edições em 2023.”

Paula Sperb

Julián no casamento. Jessica Love.
Trad. Daniela Gutfreund • Boitatá • 40 pp • R$ 59

“Depois de Julián é uma sereia, da mesma autora, publicado por aqui em 2019, ganhamos o belíssimo Julián no casamento. Ao lado de sua amiga Marissol, Julián vai ao casamento de duas mulheres, acompanhado de sua avó. Lá, os dois se divertem, se fantasiam e temem que a bagunça gere uma possível represália, o que não acontece. O livro é uma celebração ao amor livre e chega ao Brasil em mais um ano de retrocessos para a população LGBTQIA+: a aprovação, na Câmara dos Deputados, de um projeto que proíbe o casamento homoafetivo, patrocinado por parlamentares de oposição ao governo, ligados à bancada evangélica na Câmara. O texto ainda passará pelas comissões de Direitos Humanos, Constituição e Justiça e pelos plenários de Câmara e Senado. Julián no casamento é uma delicada e concisa narrativa poética, verbal e visual, que apresenta para crianças de todas as idades a alegria de existir e conviver amorosamente em liberdade.”

Cristiane Tavares

Tem um fantasma nesta casa. Oliver Jeffers.
Trad. Yukari Fujimura • Moderna • 44 pp • R$ 72,90

“Este livro foi um feliz encontro que tive numa pequena livraria e me proporcionou uma grande surpresa, como se eu realmente tivesse tirado da prateleira algo tão encantado quanto um fantasma. Gosto muito de livros que jogam com sua própria materialidade. Gosto ainda mais quando esse jogo está tão intrinsecamente ligado ao livro que serve à própria narrativa. É como se fôssemos espectadores de um filme, percebendo antes do protagonista aquilo que ele não nota; é como se fôssemos nós próprios fantasmas a observar a menina, qual cúmplices dos pequenos espíritos que surgem a cada página, a cada cômodo.”

Henrique Torres

Filhos da esperança. P. D. James.
Trad. Aline Storto Pereira • Aleph • 368 pp • R$ 89,90

“Eu já estava cansada de ler livros de ficção feminista, porque muitos deles são esquemáticos demais, didáticos demais e, especialmente, muito deterministas. Parece que para cada Ursula Le Guin, que cria universos fantásticos e personagens ricos e multifacetados para explorar as relações de gênero, há uma dúzia de livros que transformam premissas simplistas sobre gênero em enredos e personagens previsíveis. Por isso, fiquei feliz com a publicação de Filhos da esperança, de Phyllis Dorothy James, no Brasil. O livro é uma distopia que não se limita a exagerar os problemas do presente, como a crise migratória e a degradação do meio ambiente, mas que subverte uma das bases da sociedade humana: a capacidade de reprodução. James mostra como a esterilidade generalizada afeta as relações de gênero, a política, a economia e a cultura. Ela nos faz pensar sobre a nossa interdependência e sobre o que acontece quando perdemos a esperança no futuro e encaramos a nossa extinção.”

Verônica Toste Daflon

Um cão no meio do caminho. Isabela Figueiredo.
 Todavia • 246 pp • R$ 69,90

“Uma grande autora publicando depois de passados alguns anos de seu último livro.”

Aparecida Vilaça

Estranhos a nós mesmos: histórias de mentes instáveis. Rachel Aviv.
Trad. Laura Teixeira Motta • Zahar • 304 pp • R$ 84,90

“Um livro contido em juízos de valor, algo raro em nossos tempos, sobre os debates internos na área da saúde mental. Nesta balada dos loucos por opiniões em que vivemos, não é pouca coisa.”

Anna Virginia Balloussier

O homem da areia.  E.T.A. Hoffmann.
Trad. José Feres Sabino e Marcella Marino M. Silva • Ils. Eduardo Berliner • Ubu • 112 pp • R$79,90

“Tem um lado que o texto clássico do Hoffmann é incrível, me remete à infância e ao gosto pela literatura alemã mais assustadora do século 19, mas gostei sobretudo das ilustrações do artista plástico Eduardo Berliner, que dão uma outra dimensão para o texto e transformam o livro em um objeto único.”

Guilherme Werneck

Matéria publicada na edição impressa #76 em novembro de 2023.