Crítica Literária, Literatura estrangeira,

Literatura japonesa no foco

História de urso-polar que virou estrela midiática abre clube de leitura criado pela Japan House São Paulo e pela Quatro Cinco Um

27jun2019

Tem início nesta quinta-feira (27) uma parceria cultural entre a Quatro Cinco Um e a Japan House São Paulo: um clube de leitura que ao longo de um ano vai pôr em foco oito obras de ficção japonesas publicadas no Brasil. O primeiro livro da seleção, Memórias de um urso-polar, será comentado pela crítica literária Maria Esther Maciel e debatido com os leitores inscritos no clube.

Com ênfase em autores contemporâneos, a curadoria, assinada pela diretora cultural da Japan House São Paulo, Natasha Barzaghi Geenen, e pelo editor da revista, Paulo Werneck, também incluirá mangás, romances centrais do modernismo japonês e um clássico fundador da tradição literária do país: O Livro do Travesseiro. Estão previstos oito encontros, sempre na última quinta-feira de cada mês, com críticos e escritores de ficção convidados, que vão debater os livros com o público e com Werneck, encarregado da mediação.

 “Por meio desse Clube expandimos a atuação da Japan House São Paulo para abordar esta área tão interessante e rica que é a literatura japonea e que já conta com tantos entusiastas. Espero que este clube seja um ponto de encontro regular de descobertas tanto por novos leitores como pelos apreciadores já estabelecidos”, declara Natasha Barzaghi Geenen. 

O Clube de Leitura é o primeiro projeto de fôlego em torno de literatura realizado pela Japan House São Paulo, centro cultural inaugurado em 2017, na avenida Paulista, que focaliza a cultura japonesa contemporânea com eventos e exposições de artes visuais, design, gastronomia, moda, arquitetura e outras manifestações culturais. Iniciativa do governo japonês, que a concebeu como um ponto de difusão de todos os elementos da cultura japonesa para a comunidade internacional, a Japan House está presente em São Paulo, Londres e Los Angeles. Clique aqui para conhecer a programação da sede paulistana.

 “A ideia é abrir uma oportunidade para conhecermos melhor um conjunto de grandes autores japoneses, debatendo-os de modo informal e qualificado com leitores, escritores e estudiosos, uns especializados no assunto, outros não, mas sempre grandes leitores”, diz Werneck. “Os clubes de leitura dão voz ao público, colocando-o em diálogo com editores, críticos, jornalistas e ficcionistas, movimentando a vida literária.” Segundo Werneck, o Brasil tem “a sorte de contar com excelentes tradutores e editores de literatura japonesa, o que nos dá acesso direto e constante a uma tradição literária vigorosa e que tem influências tanto sobre autores contemporâneos internacionais como em outros campos artísticos, como o cinema e as artes visuais”.

Quatro Cinco Um publicará, em seu site e na edição impressa, resenhas, entrevistas e perfis sobre o livro e o autor de cada mês, além de fazer a cobertura jornalística dos debates programados na Japan House São Paulo. Dessa maneira, será possível ler os livros e acompanhar o clube à distância, pela internet. As inscrições para o primeiro encontro já estão esgotadas. 

Primeiro encontro

No primeiro encontro, que acontece nesta quinta (27), às 19h, na Japan House São Paulo, a crítica literária e escritora mineira Maria Esther Maciel vai conversar com Werneck sobre Memórias de um urso-polar, romance de Yoko Tawada que acaba de ser lançado pela editora Todavia. Destaque da prosa contemporânea japonesa, Yoko Tawada vive na Alemanha desde 1982 e se tornou “ambidestra” do ponto de vista literário — passou a escrever seus livros em duas línguas: japonês e alemão. 

O urso-polar Knut, no zoo de Berlim, em 2007 [Jens Koßmagk/Creative Commons]

Especializada em estudos animais, vertente da crítica literária que focaliza a presença dos animais na arte e na cultura, Maria Esther Maciel vai discutir o peculiar universo ficcional de Tawada, que escolheu como protagonistas três ursos-polares de uma mesma família: avó, mãe e filho — o pequenino Knut, que se tornou popular ao ser rejeitado pela mãe logo após nascer, em 2006, num zoológico em Berlim. Adotado pelo tratador do zoo, que lhe dava leite na mamadeira diversas vezes por dia, Knut ganhou fama mundial nas redes sociais, chegou a ser fotografado por Annie Leibovitz e foi capa da Vanity Fair. Morreu repentinamente em 2011, diante dos olhos do público do zoo.

Entre os temas que Maria Esther Maciel deve tratar no debate está o “trespassamento de fronteiras” que caracteriza a autora: “Ela transita entre línguas, lugares, tempos, espécies animais, realidade, sonho e ficção, com incursões na história e nos problemas ecológicos do mundo contemporâneo”. 

Segundo a crítica mineira, que é professora na Universidade Federal de Minas Gerais e já publicou livros de ensaios sobre estudos animais, além de obras de ficção e poesia, Tawada usa a história do urso Knut para discutir questões contemporâneas, com ecos de autores clássicos tão distantes entre si na história da literatura universal como Esopo e Franz Kafka. “Tawada põe em discussão, nesse livro, os espaços de confinamento e controle, articulando, de maneira surpreendente, os circos e zoológicos às instituições humanas. Reinventa e desdobra Kafka com um olhar antenado às questões do nosso tempo.” 

O debate terá cobertura no Twitter da Quatro Cinco Um e será tema de uma reportagem a ser publicada na sexta-feira (28). Os próximos livros e convidados serão divulgados pela Japan House São Paulo e pela Quatro Cinco Um nos próximos dias.