Literatura,

11 destaques de julho escolhidos pelo editor do Listão

Mauricio Puls seleciona 150 lançamentos todo mês

02jul2019

Na equipe da Quatro Cinco Um desde a primeira edição, de maio de 2017, o editor-assistente Mauricio Puls é o responsável pelo Listão — uma seleção que chega a ter 150 lançamentos por mês e faz a alegria dos viciados em livros. É possível perder horas lendo as notas redigidas por Puls, buscando curiosidades, novidades, achados e perdidos do mercado editorial. Além desse aspecto, digamos, lúdico, o Listão é um instrumento de trabalho utilizado por profissionais do livro como bibliotecários, livreiros, jornalistas e professores. 

É Mauricio Puls que todos os dias abre os envelopes com as novidades de mais de uma centena de editoras, das artesanais às multinacionais. Filtrados, analisados e sintetizados em sinopses feitas de maneira independente por Mauricio Puls, os livros do Listão formam um panorama representativo e plural dos lançamentos brasileiros. Para entrar no Listão, os livros precisam estar entre as áreas cobertas pela revista e devem estar disponíveis comercialmente. 

Puls selecionou onze lançamentos entre os 132 do Listão da edição de julho, que acaba de começar a circular. Além do Listão, ele eventualmente publica resenhas e ensaios na Quatro Cinco Um, principalmente sobre arte e estética, temas de seus livros O significado da pintura abstrata (Perspectiva) e Arquitetura e filosofia (Annablume).

 

Aleksandr Púchkin. Eugênio Onêguin: um romance em versos.

Publicado em folhetins de 1825 a 1832, este romance em versos sobre os desencontros amorosos de um aristocrata galante se tornou o marco inicial da moderna literatura russa: "Púchkin é o nosso tudo", escreveu o poeta Apollón Grigóriev em 1859. Muito influenciado por Byron, Shakespeare e Walter Scott, Púchkin também apreciava a Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga, do qual traduziu para o russo a lira 9 da segunda parte da obra. TRAD. Alípio Correia de Franca Neto e Elena Vássina. Ateliê Editorial. 136 pp. R$ 59,90

 

Grada Kilomba. Memórias da plantação — Episódios de racismo cotidiano.

Publicada em 2008 na Alemanha, a obra é uma inventário de situações que evidenciam o racismo estrutural da civilização ocidental, que se manifesta em variados insultos cotidianos sobre os corpos e os cabelos negros: “Você gostaria de limpar nossa casa?”; "Mas você não pode ser alemã”; "Com licença, como você lava seu cabelo?”; “Bom, mas para mim, você não é negra!”. Cobogó. 248 pp. R$ 48

 

Adrián Gorelik & Fernanda Arêas Peixoto (org.). Cidades sul-americanas como arenas culturais. Reúne 23 ensaios sobre cultura urbana nos grandes centros do continente, com destaque para São Paulo (a av. Paulista na Belle Époque, o edifício Martinelli e a euforia vertical), Rio (o crepúsculo do Ouvidor, cosmopolitismo e modernidade em Copacabana) e Buenos Aires (a boemia, o Bafici), mas incluindo Córdoba, Montevidéu, Recife, Bogotá, Caracas, Brasília, Salvador, Quito, Lima, Santiago. PREF. Nabil Bonduki. TRAD. Francisco José M. Couto. Edições Sesc. 384 pp. R$ a definir  

 

Carl Einstein. Documents: Carl Einstein 1929-1930.

Reúne os ensaios do diretor da célebre revista francesa (editada por Georges Bataille) sobre Picasso, Braque (ambos seus amigos), Masson, Ingres, Seurat, Cézanne, Gris e Miró. O primeiro ensaio começa assim: “A história da arte é a luta de todas as experiências ópticas, espaços inventados e figurações (…). O quadro é uma contração, uma interrupção dos processos psicológicos, uma defesa contra a fuga do tempo e, assim, uma defesa contra a morte”. TRAD. Takashi Wakamatsu. Cultura e Barbárie. 224 pp. R$ 40

 

Arlindo Machado. A ilusão especular: uma teoria da fotografia.

Publicada em 1988, esta dissertação de mestrado critica as concepções ingênuas de que a fotografia é um mero reflexo do objeto e mostra como o sujeito refrata a imagem (por meio da perspectiva, do recorte, do enquadramento) e a converte em um signo ideológico. O livro tornou-se um dos clássicos da teoria fotográfica no Brasil. Gustavo Gili. 184 pp. R$ 59

 

Regina Cirino Alves Ferreira de Souza (ORG.). Fashion law: direito da moda. Traz artigos sobre as marcas na indústria da moda, o papel das patentes no mercado fashion, os direitos dos modelos retratados nas fotografias de moda, o direito do autor na indústria da moda, o trabalho em condições análogas à escravidão nas empresas do setor, a logística reversa como instrumento de redução dos impactos ambientais, a transformação de produtos falsificados em matérias-primas têxteis, o franchising na indústria da moda, a indústria do perfume e a moda e a cultura digital. D’Plácido. 408 pp. R$ 149,90

 

Manuel Castells (ORG.). Outra economia é possível: cultura e economia em tempos de crise. Apresenta experiências reais de organização da vida e do trabalho (nos Estados Unidos, Grécia, Catalunha, Austrália) capazes de oferecer futuros alternativos ao domínio do capital financeiro, que desde 2008 afundou o mundo numa crise prolongada: cooperativas, redes de escambo, redes de solidariedade, moedas comunitárias, moedas virtuais, cidades lentas, economia sem crescimento. TRAD. Renato Aguiar. Zahar. 296 pp. R$ 69,90/R$ 49,90

 

Peter F. Strawson. Indivíduos. Publicado em 1959, este clássico da filosofia analítica reativou os argumentos transcendentais e levou a uma retomada da filosofia kantiana no mundo anglo-saxão. O livro reintroduziu a metafísica na filosofia analítica, distinguindo a “metafísica descritiva” de Aristóteles e Kant da “metafísica revisionista” de Descartes e Leibniz e apontando a prioridade filosófica da primeira sobre as teses céticas: “A metafísica revisionista está a serviço da metafísica descritiva”. TRAD. Plínio Junqueira Smith. Editora Unesp. 352 pp. R$ a definir

 

Heloisa Helena Sitrângulo Ditolvo (ORG.). Shakespeare: paixões e psicanálise. Assim como a psicanálise de Freud, os escritos de Shakespeare mostram como os homens são tragados e conduzidos pelas paixões. Seus dramas inspiram os ensaios de John Milton sobre a inveja em Otelo, de Mario Vitor Santos sobre o ódio em Hamlet, de Celso Frateschi  sobre a traição em Ricardo 3º, de Antonio Sapienza sobre a loucura e a razão em A tempestade, de Michael Wade sobre o amor de Barbara Heliodora sobre a memória. Blucher. 220 pp. R$ 55

 

 

José Murilo de Carvalho. Forças Armadas e política no Brasil. Edição ampliada dos ensaios do professor titular da UFRJ e integrante da Academia Brasileira de Letras sobre a participação dos militares na política brasileira (no Império, na República Velha, na Era Vargas, no Golpe de 1964), a relação dos oficiais com o regime democrático e sua atuação nas guerras (Paraguai, Segunda Guerra). Todavia. 320 pp. R$ 64,90

 

Fernando Teixeira da Silva. Trabalhadores no tribunal: conflitos e justiça do trabalho em São Paulo no contexto do golpe de 1964. Reconstitui a história da Justiça do Trabalho no Brasil, detendo-se sobretudo no governo João Goulart, e mostra como a percepção de que o Judiciário estava beneficiando os trabalhadores uniu militares e empresários no ataque à democracia em 1964, e que a “questão dos direitos” esteve no cerne “das maquinações que levaram à deposição de Dilma Rousseff”. Alameda. 320 pp. R$ 66

Quem escreveu esse texto

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.