Crônica de Lisboa

Enquanto queimo as pestanas

Reconheço em nós matéria que a natureza não consegue destruir ou decompor: não o lixo, mas a pérola dentro de cada um

O espírito não coincide com um segredo escondido por mim na página onde nada escondi

Nestes dias de pandemia, chorando uma morte, sinto-me acompanhada de todos os que choram os seus

A rua recebeu o ano novo deserta, mas a presença humana estava latente

O trabalho de escrever livros obriga a perceber de que modo posso ajudá-los a me ajudarem

Livro apresenta registros de fotógrafo britânico pelas margens de um rio e de seus afluentes ao longo da estação mais fria

Os leitores-fantasma somos nós mesmos, fumando os nossos livros, engasgando-nos com eles, morrendo mais depressa à medida que os fumamos

Na raiz da noção de hospitalidade reside a esperança de que somos capazes de matar a sede ao forasteiro sem saber quem é ou de onde veio

Filho do branco em família de negros, Fidel era mais claro, mais esperto, mais burro, mais outro do que os outros

Nada me tocou como o olhar, o corpo, a postura, a testa, as mãos da filha de George Floyd